quarta-feira, 8 de junho de 2016

Corrupção alucinada, uma tragédia brasileira

O título está inspirado na obra de Theodore Dreiser, Uma Tragédia Americana, que deu margem ao filme Um Lugar ao Sol, de George Stevens, com Montgomery Cliff e Elizabeth Taylor. Uma história baseada na ambição humana. No Brasil, a tragédia, na vida real, como revela a reportagem de Jailton de Carvalho, edição de quarta-feira, no O Globo, é muito mais ampla. A corrupção generalizou-se. A honestidade tornou-se defeito. As posições se inverteram através de uma ponte tripla ligando os setores empresariais, políticos e administrativos. O prejuízo econômico causado ao Brasil é imenso.

Ultrapassou de longe todos os limites. O que era exceção, a desonestidade, transformou-se em quase uma nova regra na vida nacional. Concorrências são fraudadas, obras superfaturadas, termos aditivos exponenciados. Uma desordem total.


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Vivemos, de fato, a atmosfera de um regime anárquico, com a velocidade dos roubos se repetindo de forma incessante. Pasadena é um exemplo, como revelou Nestor Cerveró. Mas o recorde se encontra na Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco. Orçada em 2 bilhões de dólares, no final, custou 17 bilhões. O país foi assaltado por uma estrada de corrupção em volta da Petrobrás.

São episódios marcantes, destacando uma conivência excepcionalmente profunda. As delações premiadas sucedem-se de forma ininterrupta. A cada esquina das investigações, surge um caminho novo desvendado. O resultado foi – e está sendo –catastrófico, levando a prejuízos incalculáveis. Pois nenhum fato, no fundo, é isolado de um conjunto de adições. A economia explodiu. O desemprego disparou, o congelamento salarial é mais uma das consequências de um desastre colossal.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF diversas prisões. Na lista, os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.

Prisioneiro, sobretudo, de todo esse processo, está o povo brasileiro. Espoliado, perdendo renda sucessivamente diante da inflação que se acumula, sem contar com os serviços básicos de saúde, segurança, educação, longe de um horizonte que leve à esperança. A população está presa num túnel distante da saída, se houver saída, pelo menos ela levará alguns anos para se aproximar do anseio coletivo.

O que faz o governo Michel Temer, de concreto? Quase nada. Até agora, revelou somente intenções, nada de ações concretas. Pelo contrário. Recorre a retóricas evasivas que não levam a lugar algum.

Palavras no lugar de atos. É fácil concordar com intenções. O povo brasileiro entretanto, espera ações. Os últimos fatos que estão marcando o cenário do país indicam praticamente a impossibilidade do retorno da presidente Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto. Mas tal perspectiva tem um preço muito alto.

A população não pode e sobretudo recusa-se a pagar por ela. O preço desloca-se para a omissão em outro sentido, a convivência de papeis diferentes, mas na maioria dos casos com os mesmos atores e atrizes. A forma de atuação dos personagens muda, o conteúdo não.

O objetivo final permanece o mesmo. Manter o esquema de vantagens individuais e de grupos, ultrapassando as faixas que separam a honestidade da desonestidade. Principalmente, a honestidade de propósitos. E esta deve ser a diferença maior entre os campos de atuação das correntes políticas.

Mas afinal o que representam, elas? Absolutamente nada. O presidente Michel Temer precisa agir. Em primeiro lugar, estabelecer um rumo definido ao seu mandato.

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