quinta-feira, 5 de maio de 2016

A primeira mosca

Uma sequência do fotógrafo Bruno Santos na primeira página da Folha de segunda-feira mostra a presidente Dilma Rousseff perturbada por uma mosca em seu rosto durante promovido em São Paulo pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), no Dia do Trabalho. Nas primeiras fotos, Dilma parece apenas contrariada pelo inseto impertinente que insiste em passear sem audiência marcada por nariz e boca presidenciais. Na última foto, Dilma aparece com a mão espalmada, pronta a aplicar um safanão na mosca e mandá-la, literalmente, para o espaço.


A mosca não sabia com quem estava se metendo. Foi atazanar a vida de uma mulher que nunca precisou de motivo para desferir safanões verbais em quem estivesse à sua volta e, agora, tem motivos reais para isto. Em poucos dias, descerá do posto a que foi levada por 54 milhões de eleitores — dos quais, a julgar pelas últimas manifestações a seu favor, não lhe restam nem 4 milhões — para submeter-se a 180 dias de férias forçadas, com grandes possibilidades de que estas se prolonguem pelos próximos oito anos.

Por outro lado, a dita mosca podia apenas fazer parte de uma equipe exploratória — uma batedora avançada do batalhão de moscas que deverá fazer companhia à futura ex-presidente no palácio da Alvorada, onde cumprirá um doce exílio entre seus próprios lençóis e fronhas. As perspectivas são as de que não terá muitas visitas enquanto estiver afastada — ninguém de fato a estima, nem entre os seus colaboradores mais íntimos, e os correligionários que ainda a defendem o fazem apenas em nome de uma estratégia política.

Limitada nos próximos tempos a presidir um sofá ou uma cômoda e impossibilitada de continuar quebrando o país, Dilma será grata a qualquer um que se interesse em ir vê-la.

Um bom presente a levar-lhe: um mata-moscas.

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