quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Nunca antes o país suportou política tão suja e nauseabunda

A abertura do processo de impeachment é o ápice de um dos momentos mais sinistros e tenebrosos da política brasileira, pondo fim a um acordo espúrio que jamais teve similar na História da República. Com isso, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acredita que poderá se livrar da perda do mandato, em meio à confusão que está agitando a política. O caos é tamanho que o presidente do Conselho de Ética , José Carlos Araújo (PSD-BA), um ilustre desconhecido, está em êxtase, vivendo seus 15 minutos de fama, como dizia o animador cultural americano Andy Warhol. Ninguém sabia quem era esse José Carlos Araújo, mas ele agora se julga uma celebridade, ao conduzir a ação por quebra de decoro parlamentar contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Sem experiência no comando de comissões legislativas, comete um erro atrás do outro, atrasando os trabalhos e dando sobrevida a Cunha, propositadamente ou não.

Logo de início, o destrambelhado Araújo aceitou o parecer prévio do relator Fausto Pinato (outro ilustre desconhecido) antes que Cunha pudesse apresentar sua defesa, dando margem a queixas procedentes e possibilitando até recursos ao Supremo Tribunal Federal, o que provocaria curto-circuito na independência dos podres poderes da República.

Na terça-feira, transformou a sessão de votação num espetáculo, ao permitir que deputados que não integram o Conselho pudessem se inscrever para discursar. Era um nunca-acabar, a votação foi sendo postergada, até que o inexperiente Araújo jogou a toalha e convocou nova sessão para esta quarta-feira, no mesmo horário da sessão do Congresso, quando todas as comissões e os plenários de Câmara e Senado obviamente ficam impedidos de se reunirem.

Resultado, a votação será semana que vem, porque na quinta-feira os parlamentares se julgam de folga, pegam o avião e só voltam a Brasília na terça-feira, vejam que vida boa esse pessoal desfruta.

O mais importante deste episódio foi o desabafo do deputado Zé Geraldo (PT-PA), um dos três petistas que integram o Conselho de Ética e estão sendo obrigados pelo Planalto (leia-se Lula, Dilma, Wagner, Berzoini & Cia) a votarem a favor de Cunha.

“Diria que o governo está sendo chantageado (por Eduardo Cunha), mas o PT não, porque ninguém chantageia” – afirmou, acrescentando: “O Cunha tem uma metralhadora nas mãos, todo mundo sabe que ele e o grupo dele trabalham com essa arma. E o PSDB está só esperando (a abertura do impeachment). Não confiamos no Cunha, ele já colocou tanta pauta negativa para votar esse ano que para colocar mais uma e acabar com o resto… Quer coisa mais desastrosa que discutirmos agora uma pauta de impeachment?” – questionou o parlamentar, voltando a dizer que os três petistas do Conselho estão “com a faca no pescoço”.

A denúncia do deputado do PT mostra a situação inédita de abastardamento a que chegou a política brasileira, que vive a fase mais abjeta de toda a História da República. Se existia chantagem de Cunha à presidente Dilma Rousseff, é porque a chefe de governo está envolvida em graves irregularidades. Ninguém se submete a chantagem, se tem realmente a vida limpa e ilibada, este é princípio que rege o chamado crime de concussão, assim definido no Código Penal: Art. 316 – Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa
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Do alto de sua arrogância, prepotência e soberba, a presidente Dilma se comporta como se fosse imune a denúncias e investigações. Terça-feira, quando lhe perguntaram sobre a possibilidade de o senador Delcídio Amaral fazer uma delação premiada, ela respondeu, secamente: “Não tenho nenhum temor com relação à delação”.

Seria bom se fosse verdade. Se ela não tivesse mesmo “nenhum temor”, não aceitaria a chantagem de Cunha, não teria celebrado, com o beneplácito de Lula e do ministro Jaques Wagner, esse acordo nojento, cujo termo principal era “me proteja que eu te protejo”. Quem faz trato desse nível com um parlamentar como Eduardo Cunha, comprovadamente corrupto, não pode ser melhor do que ele.

Neste triste e desalentador episódio, fica bem claro que, além de incompetente, a chefe do governo é também ignorante. Ela pensa (?) que não será enlameada pela sujeira que vaza das comportas da Petrobras, achando que passará incólume pela compra da refinaria de Pasadena. Ela também julga (?) que os crimes cometidos pelo PT para ganhar a eleição não podem alcançá-la.

“Ô, coitada!…” – diria a comediante Gorete Milagres, ao perceber até que ponto a presidente Dilma se acha inatingível. Para certas pessoas, a ignorância pode ser uma bênção. E o impeachment agora é só uma questão de tempo.

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