quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Brasil: Vamos colorir livros e matar jovens de cor...


Vamos a dados de 3 institutos respeitados.

Dados do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade: a morte de jovens negros em 2012 cresceu 21,3% em relação a 2007.

O índice de negros mortos em decorrência de ações policiais a cada 100 mil habitantes e são Paulo é quase três vezes o registrado para a população branca e a taxa de prisões em flagrante de negros é duas vezes e meia a verificada para os brancos.

Os dados são de estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Os dados: 61% das vítimas da polícia no estado são negras, 97% são homens e 77% têm de 15 a 29 anos. Já os policiais envolvidos são, em sua maioria, brancos (79%), 96% são da Polícia Militar.

Jovens negros são mais vulneráveis à violência e correm, em média, até 2,5 vezes mais risco de serem assassinados do que os brancos.

Na Paraíba, o risco de um jovem negro ser assassinado é até 13,4 vezes maior.

Os dados são de 2015, divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com a Unesco.

Entre 2001 e 2011, as polícias do Estado de São Paulo mataram 5.591 pessoas – uma média de 508 civis por ano. Outras 1218 vítimas foram mortas por policiais fora de serviço que interviram ou reagiram a alguma situação enquanto estavam no período de folga. A maioria das vítimas são jovens do sexo masculino, principalmente negros. Os dados são do Quinto Fórum sobre Violência e Direitos Humanos, divulgado pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), no capítulo Violência Policial em São Paulo – 2001-2011.

Agora outro dado: o batalhão de Irajá, em que ficavam os cinco jovens negros executados no sábado, é o que mais mata no Rio de Janeiro. Desde 2011, foi dono de 13% da parcela das mortes “em confrontos”.

O Brasil não tem orgulho negro

Stephen Zweig, o escritor, referia que via no mapa do Brasil o desenho de uma harpa. Meu ídolo Lima Barreto, mulato, dizia que o mapa do Brasil não passava do desenho de um presunto.

Sim: nossa cidadania é submissa: apresuntada. Cala-se ao racismo com risos compartilhados que nos medem as horas vãs…

Alguém se lembra de quando , em Los Angeles, em 29 de abril de 1992, um Júri absolveu os 3 policiais que espancaram o motorista negro Rodney King? Tiveram de chamar a Guarda Nacional para conter as revoltas…

Alguém se lembra que em maio passado o policial norte-americano Michael Brelo, de 31 anos, foi absolvido da acusação de matar dois suspeitos negros desarmados em Cleveland ? Após a decisão, manifestantes tomaram as ruas da cidade.

Lá o lance é diferente.

O orgulho negro dos EUA tem bases bem fundamentadas. Uma delas é W.E.B. Du Bois. Falava alemão melhor que Joaquim Barbosa. Defendia a superioridade do negro (a que chamava do “décimo talentoso”). Em 1911 escrevia cousas como “as pessoas de cor possuem uma criatividade artística e cultural distinta daquelas dos antagonistas e opressores brancos, uma vitalidade interior maior e uma humanidade mais profunda”( a isso Du Bois chamava de “alma vital”, ou “seeleleben”).

Em sua obra Dark Princess, Du Bois notou: “os povos mais escuros são os melhores –a aristocracia natural, os criadores da arte, da religião, da filosofia, da vida, de tudo, exceto da máquina”.

Segue poema que Du Bois compôs em Gana (que Neymar e Daniel deveriam cantar, às lágrimas furtivas, em lugar do nosso “ovirindu piranga às margens plácidas…”):

“Ergui minha última voz e clamei
Clamei ao paraíso enquanto morria…
Do Ocidente fumegante cujos dias são findos
Que fedem e cambaleiam em sua imundície
Às praias da África, China, Índia
Onde o Quênia e o Himalaia estão
E onde o Nilo e o Yang Tse fluem
Viram-se cada rosto desejoso do homem.
Desperta, desperta, oh mundo adormecido,
Honre o sol;
Adore as estrelas, esses sóis mais vastos
Que governam a noite
Onde o negro é brilhante
E todo trabalho altruísta é justo
E a ganância é pecado.
E a África prossegue
Pan África!”

Esse orgulho negro inexiste no país da tolerância: aqui o barato é “nonhô manda, caboclo faz”

O vocábulo “raça” deveria ter sido banido do dicionário desde o começo da década de 50: que foi quando Watson e Crick, ao conjecturarem sobre a dupla hélice do DNA, notaram que tais hélices eram compostas por decágonos – figuras de dez lados que, sabe-se em geometria, são as que mais concentram a energia. E que se você comparar o índice de crescimento desses decágonos seja num judeu, alemão, russo, esquimó ou argentino, ou branco, ou negro, ou circassiano, ou pardavasco, verá que as medidas são iguais. Ou seja, desde o começo da década de 50 os cientistas sabem que não existe conceito científico de raça. Somos todos rigorosamente iguais apesar das flamantes mentiras que volta e meia os racistas tendem a vender por aí.

Qualquer beletrista de Engenharia, Artes Plásticas ou Ciências sabe que toda vida viva cresce na mesma proporção: é o chamado número áureo ou golden mean, representado por raiz de 5 mais 1 sobre 2. Toda vida viva cresce nessa proporção. Com as hélices do DNA não é diferente.

O pensador marxista alemão Ernst Bloch (1885-1977) gostava de apontar o que chamava de “a contemporaneidade do não-coetâneo (em alemão, "Gleichzeitigkeit der Ungleichzeitigkeit”). Ou seja: você vive no século 21, mas pode estar dividindo o seu espaço, lado a lado, com quem ainda mantenha valores medievais. Ou simplesmente com quem ache que a ida do homem à lua não passa de uma montagem de video. O que ainda existem “raças”.

O Brasil é racista. De cabo a rabo.

Colorindo livros

Há 2 anos todos saíam às ruas para protestar contra 20 centavos.

Hoje todos se calam.

Porque todos estão colorindo livros. Os livros de colotir venderam R$ 25,18 milhões de janeiro até julho. Os dados são do 3º Painel das Vendas de Livros do Brasil, com dados pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e pelo Instituto de Pesquisa Nielsen.

Vamos colorir livros e matar homens de cor: é o barato do momento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário