domingo, 15 de novembro de 2015

Sinfonia de ladrões

Bilhões roubados da que já foi uma das dez maiores petroleiras do mundo, outros bilhões surrupiados de projetos do setor elétrico; sabe-se lá quantos para favorecer uns e outros amigos do governo. Cifras indecifráveis para a maioria dos brasileiros afanados, os mesmos que pagam as contas dos larápios. E que ainda têm de ouvir explicações esdrúxulas, fantasiosas, e até cômicas dos bandidos, além de pregações diversionistas dos orquestradores da rapinagem.

Nessa seara, o emaranhado de invencionices do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para se safar das contas na Suíça, não se difere das pregações da cartilha do PT, que culpa as investigações da Lava-Jato, Justiça e imprensa pelos dissabores que o Mensalão, e agora, o Petrolão, provocam à legenda.

Ambos – PT e Cunha – apostam no diversionismo, tática que os petistas, a começar pelo chefe-maior Lula, conhecem bem. Cunha domina outras tantas artimanhas, mas nessa só imagina ser bom aprendiz.

Lula é imbatível na técnica. Sabe como ninguém criar fatos, mudar o rumo do noticiário. Na semana passada, depois de ver novamente a si e sua prole metidos em encrencas, revirou sua baqueta para reavivar a ode que silenciara dias atrás contra o ministro Joaquim Levy. 

Um factoide extraordinário. As páginas dos jornais passaram a dedicar espaços generosos a Henrique Meirelles, o preferido de Lula, detestado por Dilma Rousseff. Organizou-se o absurdo Levy versus Meirelles, como se algum deles fosse capaz de imprimir personalidade à correção fiscal em um governo que não pretende e nem quer fazer isso.

Uma celeuma falsa, coisa para boi dormir, ganhar tempo e enganar trouxa. Tal como as mentiras de Cunha e a cartilha do PT.

Todos. Lula, Dilma, PT, gente do mercado e fora dele sabem que Levy e Meirelles rezam o mesmo evangelho. Tanto faz ser um ou outro o responsável pelo aperto que o necessário ajuste fiscal exige.

Mas o safo Lula explora ao máximo o disse-me-disse sobre a substituição de um ministro da Fazenda, especialmente quando a troca é de seis por meia dúzia, não causa tumulto no mercado e lhe rende tempo. Algo precioso. Antes de tudo, desvia – como já vem ocorrendo – o noticiário de pegar no seu pé e puxá-lo (ele e os seus) para o fundo da lama.

Ainda que nem sempre em sintonia, Dilma, Lula, PT e companhia, Cunhas e Renans compartilham a mesma partitura. Unem-se na tentativa de evitar danos. Protegem-se contra cassações de mandato, processos internos e da Justiça. Desprezam o país e cuidam de si com esmero. A ponto de querer que cada brasileiro reponha o cofre que eles arrombaram ou deixaram arrombar.

E não é coisa de pouca monta. Bilhões e bilhões que nem no imaginário encontram guarita. Que superam os números das maquininhas de calcular, que transbordam a piscina do Tio Patinhas.

E se repetem como imitação barata de um Bolero de Ravel.

Só na Petrobras, a Polícia Federal aponta o surrupio de mais de R$ 42 bilhões, R$ 12 bilhões a mais de tudo aquilo que o governo Dilma imagina arrecadar em todo o ano de 2016 caso a CPMF seja aprovada. Ou seja, mais de um terço do que os 0,20% da movimentação financeira de todo o país em um ano. Mais de 600 mil casas populares de dois quartos, 420 vezes o maior prêmio de loteria já pago. Isso, só na Petrobras.

Acredita-se que o mesmo esquema foi reproduzido em outras estatais. Algo que já se comprovou no setor elétrico, mas que, em desafino, o Supremo preferiu desvincular das investigações da Lava-Jato.

Difícil crer que o país suporte a mesma toada de explicações inexplicáveis, acobertamento de corrupção, inépcia e desgoverno até 2018. Mas não basta desautorizar Lula, destituir ou substituir Dilma.

Além de outro maestro, o país reivindica outra sinfonia
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