Um país refém de si mesmo, começando a entender a enrascada em que se meteu, enquanto, atônito, observa o descortinar do maior e mais viciado esquema de corrupção já engendrado em sua história. De resto, impeachment, alternativas no cenário político, ritos e pedaladas encerram melancolicamente a agenda do brasileiro em 2015.
É verdade, pelo menos emergiu um cenário até então desconhecido, dando origem a um senso crítico que certamente ecoará até 2018. Entretanto, ao passarmos para o âmbito político propriamente dito, constatamos que ficou ainda mais explícito o instinto de sobrevivência típico da nossa classe política.
Peguemos, por exemplo, a ópera-bufa envolvendo Cunha, PT, PSDB e STF, em que se transformou o cada vez mais etéreo pedido de impedimento da presidente. A rigor, o que pode ser depreendido?
Nada de muito relevante, apenas que foi, está, e ainda continuará, por algum tempo, a ser instrumentalizado como argumento de barganha para manter o atual estado de coisas, jamais para modificá-las. E que o desejo de Cunha, Lula, Dilma, mesmo o dos tucanos, até ensaiou variar, mas acabou pendendo mesmo para a continuação do carteado, e não para um terremoto que reembaralhe as cartas.
No fundo, diga-se, pelo menos até este momento, a ideia do impeachment não chegou a pegar na esfera política, e mesmo a opinião pública não fez a pressão que deveria para ver Dilma pelas costas. Sobre este aspecto, aliás, peço encarecidamente, não me venham com fotos de passeatas épicas, nem falar sobre os milhares que em todo o Brasil tomaram as avenidas para vociferar contra nossa paquidérmica mandatária.
Digo, claro que as inúmeras manifestações organizadas via internet, com carros de som, bonecos, e toda uma estrutura capaz de atrair multidões de brasileiros, não podem ser subestimadas. Ainda assim, o “Fora Dilma” não ganhou o País como, por exemplo, aconteceu com o “Fora Collor”. Conseguiu institucionalizar um clima de Fla-Flu político, o que já foi um enorme passo e produzirá dividendos para a oposição nos próximos pleitos, mas não extrapolou o antipetismo.
De resto, não seria mesmo fácil tirar Dilma do poder. Infelizmente, o discurso de esquerda ainda é capaz de seduzir jovens e estudantes via retórica ideológica, e de atrair o povão já acostumado a ser domesticado pelo populismo barato. Isto, sem falar no histórico apoio de grande parte da mídia e também da classe artística.
Muito embora, após as reprovações das contas no TCU, eu tenha passado a defender que o impedimento é justo e mesmo desejável, opinião esta que não mudou, jamais encarei a queda da presidente como uma questão de vida ou morte, e portanto não entro em desespero ao constatar que ainda restam três longos anos com uma mentecapta no papel de Chefe de Estado.
Difícil, duro mesmo, é constatar que continuamos e continuaremos sendo cozinhados por um sistema desgraçadamente invencível.
No atual ritmo da caravana, mesmo que o voto deixe de ser obrigatório, a maneira de fazer política por aqui, o sistema partidário, toda a engrenagem, enfim, não permitirão muitas esperanças.
Se pode piorar? Em se tratando de Brasil, sempre pode, mas, com o presente do jeito que está, só sendo muito otimista para temer pelo futuro.
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