A acumulação patrimonial integra a Revolução Agrícola, que ocorreu entre 10 mil e 12 mil anos atrás, determinando sedentarismo e criando o conceito de propriedade privada. Ela mobilizou homens vigorosos para a estocagem de víveres e delimitação de territórios, oprimindo outros homens e povos. Isso atingiu um ponto extraordinário, no século XVIII, com a Revolução Industrial, que implicava a produção em grande escala de muitos itens para a população que se fixou nas cidades. Todos foram compelidos à adoção de novos padrões culturais, fomentando o novo sistema produtivo, enquanto trabalhadores e consumidores de bens além de suas necessidades básicas.
Criou-se, assim, o binômio mercado insaciável x produção em grande escala, sem considerar a finitude dos recursos naturais. Ou seja, não se questionou, até o fim do século XX, a sustentabilidade desse procedimento no planeta. Buscou-se, pelo contrário, explorar todas as fontes de matéria-prima com drástica intervenção em inúmeros ecossistemas.
Surgiram novos conceitos sobre conforto, beleza e felicidade mediante adoção de automóveis, asfalto, plástico e outros produtos alheios à simples subsistência, com intensa substituição de objetos obsoletos por outros mais modernos. Não importavam a geração de lixo e a inutilidade do produto, principalmente quando ele se tornava símbolo de poder, riqueza e prestígio.
A conscientização de que a devastação ambiental pode comprometer nossa sobrevivência ocorreu há poucos anos e ficou restrita a algumas pessoas; poucas ações foram implementadas, justamente para não bloquear o dinamismo econômico nem rever os conceitos sobre desenvolvimento e modernidade. Ficamos, pelo contrário, dependentes da comunicação em tempo real e aplaudimos o uso egoísta de qualquer instrumento.
Os desastres climáticos, a redução de água potável, a contaminação do solo, a extinção de muitas espécies vegetais e animais e as novas enfermidades indicam que haverá brevemente esgotamento da natureza. Estamos, portanto, pavimentando o caminho para a tragédia, pois não haverá uma tecnologia que possa deter essa fúria contra a exploração desenfreada. A Terra não terá complacência por quem acredita que o banquete nunca terá fim, e seremos todos engolidos pelo mesmo processo destruidor decorrente dessa orgia.
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