Na essência, reclama de que o luto não é o mesmo para todos os mortos pelo terrorismo.
Ou, dito de outra forma: ninguém, no Ocidente, colocou a bandeira do Líbano no seu Facebook depois dos atentados do dia 12 passado em um bairro do sul de Beirute em que morreram 44 pessoas.
É verdade que os mortos de Paris foram bem mais, o triplo, mas o direito à vida e a solidariedade com as vítimas não podem ser medidas por quilo.
Mas "mais perturbador" do que a omissão, escreveu o jornalista, foi o fato de que grande número de reportagens nos meios ocidentais tratou de "rotular" as vítimas libanesas, em vez de simplesmente pranteá-las, ao contrário do que se fez com as vítimas de Paris.
Minuto de silêncio pelas vítimas dos atentados em Paris
De fato, o título do "The New York Times" para os atentados em Beirute foi: "Explosões mortais atingem praça forte do Hizbullah no sul de Beirute".
O lamento implícito no texto é o de que os mortos de Beirute não foram tratados como seres humanos, mas como militantes do Hizbullah, como tal desprovidos de humanidade, porque o grupo é radical e considerado terrorista.
O que torna a queixa de Battah ainda mais consistente é o fato de que os atentados de Beirute têm o mesmo responsável (o Estado Islâmico) e a mesma suposta explicação que os de Paris: o Hizbullah luta contra o Estado Islâmico na Síria, em defesa de seu aliado Bashar al-Assad, assim como a França bombardeia territórios do Estado Islâmico.
Eu acrescentaria que há outros atentados terroristas, quase cotidianos, cujas vítimas não são choradas fora de seu país: os judeus que estão sendo mortos por palestinos, quase sempre a facadas.
Mal saem notícias fora de Israel. E sempre haverá os que acham que matar judeus está justificado, ou por puro antissemitismo, ou porque Israel ocupa indevidamente territórios que a ONU destinou aos palestinos.
Do meu ponto de vista, desrespeito à vida é sempre injustificável, sob pena de se implantar a lei de talião e, de olho por olho em olho por olho, acabarmos todos cegos –e sem lágrimas pelos mortos dos outros.
Clóvis Rossi
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