domingo, 22 de novembro de 2015

'Impacto de lama no mar seria como dizimar Pantanal'

Lama do desastre em Mariana chega à foz do rio Doce
A chegada da onda de lama, resultado do rompimento de uma barragem em Mariana (MG) há duas semanas, ao Oceano Atlântico ─ prevista para ocorrer neste domingo ─ teria um impacto ambiental equivalente à contaminação de uma floresta tropical do tamanho do Pantanal brasileiro.

A afirmação é do biólogo André Ruschi, diretor da escola Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi, em Aracruz, Santa Cruz, no Espírito Santo.

De acordo com Ruschi, os 62 bilhões de litros de rejeitos do beneficiamento do minério de ferro ─ o equivalente a 25 mil piscinas olímpicas ─ despejados ao longo de 500 km da bacia do rio Doce atingiriam cerca de 10 mil km² numa região conhecida como Giro de Vitória, importante celeiro de nutrientes para animais marinhos, como a tartaruga-de-couro (ameaçada de extinção), o golfinho pontoporia e as baleias jubartes.

'A lama que chega carregada pelas correntes vai se depositar inicialmente numa área menor, mas como o tempo ─ devido a chuvas, por exemplo ─ pode afetar áreas maiores, Estamos falando do eixo de funcionamento de todo o Atlântico Sul. Essa é a região de maior biodiversidade marinha do mundo. É um sistema especial, único, importante e fundamental'
 .Ele estima que a descarga tóxica contaminaria principalmente três Unidades de Conservação marinhas ─ Comboios, Costa das Algas e Santa Cruz, que juntas somam 200.000 hectares (2.000 km²) no oceano.
Ruschi lembra, contudo, que como o ecossistema marinho é mais vulnerável do que o terrestre, o impacto no mar seria proporcional à contaminação de uma área continental dez vezes maior ─ ou 20.000.000 hectares (200.000 km²) ─ de floresta tropical primária.

(AFP)

"Seria como dizimar, de uma só vez, todo o Pantanal", afirma Ruschi à BBC Brasil. O Pantanal se estende por 250.000 km² pelo Brasil, Bolívia e Paraguai.

"O ecossistema marinho é muito mais eficiente na biossíntese do que o terrestre. Cerca de dois terços de toda a biomassa do planeta é produzida em apenas 5% ou 6% dos oceanos. Trata-se da borda dos continentes ou de regiões com menos de 200 metros de profundidade, onde as algas podem receber luz e fazer fotossíntese", explica.

Ruschi acredita que, se nada for feito, o prejuízo ambiental do 'tsunami marrom' pode demorar 100 anos para ser revertido.

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