quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Entregues à providência divina

O país reclama do governo por uma agenda positiva, ou seja, um elenco de iniciativas capazes de restabelecer a esperança e a confiança em que sairemos da crise. Madame, no entanto, não consegue livrar-se da agenda negativa. Nem ela nem seus adversários. O dólar acaba de romper a barreira dos quatro reais, ao tempo em que o palácio do Planalto busca adiar a rejeição, pelo Congresso, dos vetos presidenciais a projetos aprovados pela maioria de deputados e senadores. Ao mesmo tempo, ignora-se quantos e quais ministérios serão extintos, sob a inquietação dos partidos da base oficial. Enquanto o segundo ajuste fiscal apenas assusta, com a recriação da CPMF, mas não chegou como projeto à Câmara dos Deputados, por medo da derrota, os efeitos do primeiro pacote fazem-se sentir em toda a sociedade: redução de direitos trabalhistas e de salários, aumento de impostos, taxas e tarifas, ascensão do custo de vida e, acima de tudo, desemprego em massa.

Na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes, ninguém pensa na formulação de medidas em condições de recuperar a economia. Torna-se tão calamitosa a situação a ponto de o ex-deputado Delfim Neto acusar Madame de trapalhona e de um ícone fundador do PT, Hélio Bicudo, ter dado entrada no pedido de impeachment da presidente da República. Acrescente-se que o Tribunal de Contas da União está próximo de rejeitar as contas do governo em 2014 e de o Tribunal Superior Eleitoral, prestes a anular as eleições do ano passado, de Dilma e Temer, pela utilização de dinheiro podre na campanha. O PMDB abandona a coligação com o PT e os pequenos partidos saltam de banda.


A renúncia da presidente ganha cada vez mais clamores, ainda que não apenas a ela se deva inculpar pela desagregação econômica e institucional. A Justiça continua cumprindo seu papel, em ritmo peculiar, punindo muito menos do que descobrindo novos lances da roubalheira ao patrimônio público.

É esse o retrato do Brasil, jamais escondido no porão, como o de Dorian Gray, mas escancarado à vista de todos. Nem o empresariado nem os sindicalistas conseguem mais do que protestar em defesa de seus interesses. Na bancarrota, os Estados e Municípios enfrentam a inadimplência, assistindo a Federação desfazer-se e a União penalizando-os cada dia mais, sem conseguir livrar-se de dívidas sempre crescentes.

Muita gente acha que com a renúncia ou o impeachment seria possível começar tudo de novo, mera ilusão inviável, pois que grupo, partido ou corporação assumiria o encargo? E com que propostas? A conclusão é de que somos um país em frangalhos, entregue à Divina Providência, se é que Ela existe.

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