sábado, 19 de setembro de 2015

Dilma, o futuro a absolverá


Quando Dilma Rousseff foi eleita presidente da República, em 2010, o ex-presidente Lula imaginava que a reprodução do seu modelo de Governo estava apenas começando. O lulismo, como o batizaram, estava dando o primeiro passo sem a presença do seu criador. Dilma seria a porta-bandeiras por quatro ou oito anos, outro, senão o próprio Lula, assumiria, e o lulismo persistiria no poder por décadas, assim como o peronismo persiste na Argentina.


Logo na primeira troca de faixas, esse projeto que duraria “mil anos” começou a encontrar dificuldades estruturais marcantes. Dilma não seguiu à risca a cartilha do lulista. O incentivo à busca do consenso, o meio termo, os passos calculados e a eterna ampliação da base aliada não era o que Dilma tinha em mente. O início fulminante do Governo, com aprovação nas alturas e com Dilma, mãe do povo, na verdade era o fim do lulismo. O fim de um projeto que funcionou bem por oito anos, mas não tinha fôlego para ser eterno.

O dilmismo entrou em cena no fim de 2012, início de 2013, embora o povo só tenha tomado conhecimento desse novo modelo de Governo em junho de 2013, quando as manifestações explodiram país afora. A partir daí o dilmismo enraizou-se sem se alterar, sem abrir o mínimo espaço para o lulismo nos anos seguintes.

Esse conflito de pseudo-ideologias viveu uma trégua durante as eleições de 2014. Afinal, ainda havia para o ex-presidente Lula a chance de mudar a forma de atuar de sua pupila, enquanto para Dilma havia a esperança de convencer o mentor de que, no momento, o seu modelo é mais moderno e adequado para o Brasil.



Não foi o que ocorreu. Desde sua vitória apertada nas urnas, o dilmismo morreu, e em um ato imprecedente, arrastou junto o lulismo. Dilma, sem saber, está sendo a Margaret Thatcher brasileira.

Por meio de seus erros, seus equívocos, o Brasil está adotando uma mentalidade diferente da que reinou nos últimos anos. O desejo de diminuir o Estado, seja por meio do corte de ministérios ou demissão de cargos comissionados, não existe só entre a elite empresarial de São Paulo. Já se tornou um desejo nacional, onde brasileiros estão entendendo que eficiência é o que garante comida na mesa. Desburocratização, menos impostos e excelência são demandas que se ampliam entre várias camadas sociais.

Dilma está promovendo uma mudança de mentalidade na imprensa, em formadores de opinião e no meio político sem precedentes. Por conta dela e do PT, o maior partido de esquerda do país irá encolher nas próximas eleições. O Congresso tornou-se mais conservador do que foi em muitas décadas. À beira do abismo, o PT pode abrir espaço para o PMDB e o PSDB se transformem em dois gigantes, e o possível herói que pode salvar o Governo dito de esquerda ser um economista da Escola de Chicago. Não esqueçamos de que um mamute, como a Petrobras, que sairá magra, eficiente, bonita e ágil quando tudo isso passar e seus parasitas forem eliminados.

Ora, nem que quisesse, Dilma promoveria tantas mudanças que empurrariam o Brasil para um ambiente tão liberal quanto o que está se formando. Seus erros e os do PT chegaram a tal ponto que a criação do Partido Novo, de orientação liberal, está sendo saudada por várias fatias da sociedade como um sopro de novidade em um ambiente político débil e repetitivo.

Certos heróis nascem de incríveis atos de coragem em momentos de extrema dificuldade. Outros só são reconhecidos anos, décadas depois de sua existência, simplesmente por terem sido catalisadoras de grandes e inesperadas mudanças. Dilma pode muito bem ser a heroína do país no futuro, não pela forma consciente com a qual governou, mas pela revolução que seus erros terão gerado. Não vaiem agora. No futuro, poderemos estar aplaudindo.

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