Amigos não exatamente indignados, mas, sim, em óbvio tom de cobrança, a cada notícia alarmante parecem esperar de mim uma segunda opinião sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Devo admitir, embora seja capaz de comemorar efusivamente o exílio do último dia alvissareiro, não deixo de sofrer com a reprovação dos cupinchas. Trata-se de um claro divórcio de idéias, como se discordássemos sobre a melhor estratégia em uma partida de xadrez. Eles não admitem, mas a mesma pergunta poderia perfeitamente ser invocada por mim. Especialmente após cada notícia alarmante.
Nesta semana que passou, por exemplo, vejam só, o governo demorou, mas finalmente conseguiu a façanha de rebaixar o Brasil. Na classificação de crédito da Standard and Poor’s, agora passamos a ser considerados lixo. E então pergunto, já pensaram no enorme desperdício, caso este precioso momento ocorresse na administração Temer, e não durante um mandato petista? E agora?
Nossa divergência, acho eu, reside na dificuldade deles em perceberem que o copo, aparentemente meio vazio, já está transbordando para quem deseja ver o PT sucumbir. Que as atuais notícias ruins, por mais amargas, asseguram um futuro sem Lula, e portanto animador para o país. Ou, por outra, que às vezes, quanto pior, não só se está melhor, mas muito melhor.
Lamento, mas se corrupção, má administração e, acima de tudo, falta de dinheiro no bolso, pela primeira vez começam a ser nacionalmente associados ao Partido dos Trabalhadores, não vejo sentido algum em aliviar Lula e sua turma da morte política, a única que realmente conta para eles e interessa ao Brasil.
Digo, a crescente indignação, até mesmo por parte de quem já votou em Lula e Dilma, é por demais sui generis para ser subaproveitada. Merece, isto sim, ser delicadamente temperada até 2018, e não interrompida prematuramente. Ou alguém consegue imaginar passeatas enormes contra o PMDB e bonecos de Michel Temer flanando por aí?
“Mas, Mario, e o Brasil? Se continuarmos assim, o que restará do país em 2018?”, questionamento campeão de popularidade, não me comove ou assusta. E são alguns os motivos.
O primeiro deles, porque terrorismos do mesmo quilate já estão cheirando a mofo, de tanto que foram utilizados pelo próprio PT nas últimas eleições.
Depois, pela falsa premissa embutida na pergunta, de que o impeachment certamente significaria uma melhoria imediata no dia a dia dos brasileiros. Além de ser um chute, se levarmos em conta as projeções do mercado e opiniões dos especialistas, sem contar o crescente embaraço de Levy, pinta como um daqueles que ultrapassará o alambrado do estádio.
Mesmo assim, nenhum vaticínio me assusta mais do que, desde já, dar a derrocada de Lula como favas contadas. Me parece um erro crasso subestimar o comprovado poder de sedução do único político brasileiro verdadeiramente popular, sem falar em um voto que já se tornou hábito consolidado há mais de uma década.
Erro maior, só mesmo considerar que as manifestações organizadas até agora, incluíndo aí o genial pixuleco, tenham ressoado no brasileiro avesso ao que acontece na política nacional. Para essa parcela da população - anotem aí, a única que realmente interessa na hora de fazer qualquer projeção eleitoral - o embate entre petistas e anti-petistas é tão interessante quanto uma luta entre escaravelhos no Globo Repórter. Votam da maneira mais pragmática possível, sem paixão, com a mão no bolso, analisando se a própria vida está melhor ou pior, pesando se vale pena ou não mudar em time que está ganhando.
Pois tendo a devoção da militância e a repulsa dos antipetistas como certezas, Luiz Inácio jamais deixou regar a plantinha do populismo, abocanhou essa turma, e na base do nós contra eles alcançou um tamanho inédito, a ponto de conseguir eleger e reeleger uma presidente tão patética como Dilma.
Hoje em dia, tudo o que o Caudilho gostaria de poder fazer, além de não precisar se expor ao cair em contradições fáceis de serem desmascaradas, é pular do barco. E logo, antes que fique claro, para essa mesma base de apoio fiel, que o placar está virando. Sabe que ainda dá tempo, mas também reconhece o atual cenário como uma ampulheta. A cada dia que passa com Dilma no poder, quem perde cacife é ele.
Mesmo com um cenário tão cristalino, a grande lição do petismo, de calcular passos com antecedência e sempre que possível dificultar o caminho do adversário, parece ainda não ter sido assimilada.
“E agora?”, amigos, quem diz sou eu.
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