domingo, 13 de setembro de 2015

Agenciazinha de fim de mundo: rebaixando o que nunca existiu


Toda história do movimento revolucionário, na sua guerra assimétrica, é a história que "acusa" a "imoralidade do sistema capitalista". O comunista aponta o empresário como "perverso", diz que ele "odeia a classe trabalhadora" e que é um "opressor". Ainda que este tipo de discurso, clássico do século XIX, tenha atravessado o tempo com modificações, ainda que depois da década de 1960 ele tenha se tornado muitíssimo mais discreto (a ponto de transformar-se num discurso de crítica cultural na geração de 68), ele permanece vivo em qualquer apologia da esquerda latino-americana.

Este tipo de pensamento esconde algo que não mudou na transição da velha para Nova Esquerda ocidental - o fato de que não existe, na verdade, moral alguma a ser defendida por um regime revolucionário. A moral, no modo de produção capitalista, faz parte da "superestrutura" do sistema.

"Somos o que produzimos", disse Karl Marx, e isso é um dogma capaz de causar uma colisão frontal com uma outra espécie de imperativo ético - "nós somos a história do nosso esforço, do nosso sacrifício para produzir algo; jamais este algo material em si mesmo", pois é a ação que nos faz humanos; não o resultado dela sobre a matéria. A noção de mérito precisa, portanto, atravessar nossa passagem por esta vida dando, ela sim, um sentido moral à mesma.

Relações econômicas no mundo ocidental e num país como o Brasil tem por base critérios morais que, sejam eles quais forem, não podem ser criticados como "justos" ou "injustos" por um Governo Revolucionário. Quando um país tem sua nota de crédito rebaixada por uma agência como a Standard & Poor's (S&P), não faz sentido algum que os comentaristas políticos, os economistas ou presidentes de federações e associações de empresários, esperem do Governo Petista uma reação de preocupação à altura porque o simples conceito de "crédito" é um conceito de natureza moral, é um juízo de valor que você faz a respeito da palavra e do comportamento futuro de outra pessoa.

Em outros termos, técnico ou não técnico, filiado ou não à "ortodoxia revolucionária" (se é que se pode falar numa coisa dessas) Joaquim Levy não traduz o pensamento do Partido expresso na declaração do deputado José Nobre Guimarães, do PT do Ceará, que disse - "não é uma agenciazinha qualquer do fim do mundo que vai interferir na economia do Brasil".

Prezado leitor, entenda por favor o seguinte: não se trata de "supervalorizar" o que foi dito por Guimarães, não se trata de desmentir, de dizer que "isso é uma barbaridade", que ele "está louco", que é "petralha" ou que (evidentemente) o "Brasil vai pagar caríssimo por isso" ou "vocês vão ver a BOVESPA e o preço do dólar". A ideia deste texto é tão somente mostrar que tipo de importância, que tipo de preocupação ou status moral, o fato em si pode gerar para o PT e eu creio ser possível afirmar sem medo algum: nenhuma!

Notas de agências de crédito e a consequência delas não estão entre as preocupações de um governo revolucionário. "É Milton, mas daí eles ficam sem crédito e acaba a grana. De quem eles vão tirar mais para que possam se manter no Governo?" Resposta: "crédito" e "moral" só podem ser "rebaixados" se você os tem ou se acredita que eles sejam importantes para sua autoestima (seja ela como indivíduo ou como governo) ou para o pagamento de suas contas. O que a S&P fez foi rebaixar algo que simplesmente nunca existiu e, se o partido precisar de mais dinheiro, vai simplesmente tirar de todos nós.

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