segunda-feira, 23 de março de 2015

A direita na rua

Pode-se menosprezar as multidões, assim como se pode acreditar que as avenidas Atlântica e Nossa de Copacabana são transversais. Difícil, depois, será achar o rumo de casa

Admita-se que as manifestações do dia 15 de março tiveram um conteúdo de direita, conservador, ou seja lá o que for. Vá lá. Disso resultam várias questões:

Se foi coisa da direita, ela foi para rua com um vigor que superou de longe as manifestações da esquerda. Na Avenida Paulista não havia nenhum imigrante africano carregando balão porque recebeu R$ 30. Pelo contrário, um curioso contou três manifestantes que foram para a rua em cadeiras de rodas.

Se a bandeira da luta contra a corrupção foi para as mãos da direita, a esquerda deveria se perguntar por que e como deixou-a cair no ralo.

As multidões que foram para a rua na campanha das Diretas de 1984 não eram de esquerda. A direita que defendera a ditadura foi quem deixou a bandeira do voto cair no ralo.

O argumento segundo o qual uns poucos cartazes e faixas pedindo o retorno dos militares definem o caráter das manifestações tem o mesmo valor que o dos generais e de Paulo Maluf, que em 1984 viam nas bandeiras vermelhas uma essência comunista nos comícios das Diretas.

Finalmente, houve quem comparasse depreciativamente o dia 15 com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade de 19 de março de 1964, em São Paulo. Nela havia mais gente que no comício de João Goulart na Central do Brasil, ocorrido uma semana antes.

Pode-se menosprezar as multidões, assim como se pode acreditar que as avenidas Atlântica e Nossa Senhora de Copacabana são transversais. Difícil, depois, será achar o rumo de casa.


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