terça-feira, 23 de setembro de 2025

Anistia, Dosimetria e a Varinha do Paulinho

Eu fico me sentindo no boteco da esquina, comendo um pastel de pato no tucupi e tentando entender a diferença entre anistia e dosimetria. Do outro lado da mesa, o Super Paulinho da Força, daqueles políticos que adoram uma assembleia brigada, tentando explicar que as duas coisas são a mesma. O nosso problema, e de quem aprendeu a ler e escrever, nem estudou história com o Peninha, é que não são, nem brincando, a mesma coisa. Mas, como no Brasil a lógica política às vezes parece uma marchinha de carnaval tocada em ritmo de bolero, a confusão faz muito sentido.

Anistia é o perdão coletivo: “meu amigo, esquece o que aconteceu, bola pra frente, vida nova”. É como quando a professora Adelaide, do ensino médio, decidisse perdoar a bagunça da turma e não descontar ponto na prova seguinte. Já dosimetria é o contrário: não é esquecer o crime, mas medir a força da paulada. “Você errou, mas vamos ver se foi só um tropeço ou um salto olímpico na ilegalidade”. É como o dosador que deu dezessete anos para a terrorista armada de baton e lápis de sobrancelha.


Pô, Paulinho! Deixa o povo brasileiro seguir em paz! Nós não sabemos viver no meio dessa intriga, em que hoje convivemos, e que vocês estão acostumados. Refresca o Mercado! Isso não pode terminar bem. Estamos nos atolando na Lei de Murphy.

A graça é que, no palco da política nacional, querem fazer o público acreditar que as duas palavras são irmãs gêmeas, pigópagas, como dizia o Senador Evandro Carreira. Ao ser indagado pelo termo, o genial Evandro dizia: São as gêmeas unidas pelo bumbum. Só que não são. Uma tira a pena inteira (anistia), a outra mede o tamanho dela (dosimetria). Coisas que só o Presidente Temer conseguiria fazer.

O Paulinho da Força, sempre hábil em transformar debates jurídicos em slogans fáceis, resolveu aproximar as duas palavras como quem aproxima primos de quarto grau. A anistia que ele tanto deseja é como apagar a lousa da escola: “não importa quem escreveu, nem o palavrão que ficou marcado, passa o apagador e finge que nada houve”. Já a dosimetria é mais sisuda: não apaga nada, mas calcula a pena — 5 anos, 17 anos, ou 43, como anda ameaçando o Supremo nos casos de golpe. E lá vem o “gópi” mais burro e difícil de se entender.

Só que o brasileiro médio, esse sobrevivente que encara boletos, trânsito e fila no SUS, quando escuta “dosimetria” pensa logo em coisa pesada. A palavra tem gosto de laboratório soviético. Parece nome de manual de tortura da KGB. Se disserem que “a dosimetria será rigorosa”, o povo já imagina Stalin fazendo a contagem, Hitler batendo o carimbo e Mao Zedong servindo chá de pólvora para acompanhar umas bolachinhas.

Amigo leitor, dosimetria não é a Papuda nem paredão de fuzilamento. É só a fase do julgamento em que os juízes calculam a pena. Leva em conta o crime, as circunstâncias, a intenção e até se o réu foi educado ou malcriado no tribunal. É o momento em que o magistrado coloca no liquidificador da Justiça todos os ingredientes: culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos e consequências. No fim, sai a sentença: pena mais branda ou mais dura. As penas estão do tamanho do tempo de vida estimado para os que fazem a atual dosimetria. Para quando os dosadores saírem do sistema e os condenados saírem da vida.

Já a anistia é o ato político que diz: “apesar de você, o Brasil há de ser, vai virar a página”. No Brasil, tivemos anistia famosa em 1979, perdoando crimes políticos de militares e opositores. Atos, com morte pelo meio, foram esquecidos. Foi vontade e pacto nacional, não cálculo de pena. A anistia é uma borracha, a dosimetria é uma régua com oito buracos para chupar.

Aos brasileirinhos e leigos, o recado é simples:

Anistia = perdão coletivo, decisão política.


Dosimetria = cálculo da pena, decisão jurídica. Só o Temer sabe.

A diferença é enorme, mas o discurso é Malasarte. Paulinho tenta nos fazer acreditar que a régua da Justiça é a mesma coisa que a borracha da política. E se o brasileiro não ficar atento, pode acabar acreditando que Stalin, Hitler e Mao Zedong eram apenas chefes do Conselho Tutelar.

Paulinho, não permita que estendam os benefícios da Lei Magnitsky para o nosso presidente e família. Isso ficará muito difícil para o mercado entender. Os doidos de lá, são doidos há séculos. Os nossos, cheios de talento, saíram recentemente da Escolinha.

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