quinta-feira, 24 de julho de 2025

Civis de Gaza sob o silêncio global

Israel possui camadas históricas muito profundas; é uma nação com uma cultura rica e reconhecida globalmente por sua liderança em inovação científica e tecnológica.

A resiliência é uma característica profunda deste jovem país. Então, como explicar as ações do Primeiro-Ministro de Israel ao liderar um massacre de dezenas de milhares de pessoas inocentes na Palestina? Com acesso a tecnologias tão avançadas, por que falhou na proteção de seu próprio povo e não evitou os ataques de 7 de outubro? Quando cerca de 1.200 pessoas — a maioria civis israelenses — foram mortas em 7 de outubro de 2023, e mais de 250 foram sequestradas e levadas como reféns para Gaza, não há dúvida de que o mundo ficou abalado, e essa tragédia gerou justa indignação global.

Contudo, a resposta de Israel revelou-se desproporcional e primitiva. A propósito, a ideia de que carregamos traços primitivos é amplamente discutida na ciência; aí residem a hostilidade e o impulso de eliminar ameaças territoriais. Porém, quando esse espaço territorial possui tecnologias de ponta e um arsenal nuclear, não é o medo que está matando os inocentes, mas uma transgressão ética e moral contra a humanidade. O historiador israelense Omer Bartov afirmou que “O que Israel faz em Gaza não tem precedentes no século 21” e acrescentou: “Mudei de opinião e passei a acreditar que Gaza é, inegavelmente, um caso de genocídio, no início de maio de 2024”.

Benjamin Netanyahu é guiado por um instinto primitivo, arrasta seu povo à barbárie e cala as lideranças mundiais diante de suas atrocidades. Por que uma nação que, em sua maioria, carrega um passado de sofrimento permite que seu Primeiro-Ministro aja de maneira tão destrutiva?


Netanyahu é um líder que demonstra incapacidade de apresentar ou aceitar soluções, e a recusa em ouvir os outros também pode ser interpretada como um ato de covardia – um covarde com armas nucleares! É uma liderança que não resolverá nada; ao contrário, apenas manterá vivo um dos maiores conflitos entre povos.

Segundo Bertrand Russell, “a guerra, enquanto conflito violento, é resultado de uma falha da razão”. Dante Alighieri, em A Divina Comédia, por sua vez, tentou dar uma resposta sobre essa falha na razão, ao definir algo como “o isolamento mais profundo, que é sofrer a separação da fonte de toda luz, vida e calor”. Todavia, o que se manifesta é muito mais do que uma falha da razão; há uma corrosão do raciocínio, da ética e da empatia. Afinal, são milhares de inocentes – frise-se – incluindo, segundo a UNICEF, mais de 50 mil crianças entre as vítimas.

Não se trata de um conflito armado entre partes combatentes, mas de um massacre que ignora qualquer distinção entre terroristas e vítimas. O que resta é uma ferida aberta na própria ideia de humanidade.

Para os líderes globais apáticos, a vida dos palestinos não importa – assim como não importaram, ao longo da história, as vidas de tantas outras populações tratadas como subespécies, descartáveis, indignas de direitos. A morte, desde que esteja longe, simplesmente não existe, e a apatia das lideranças globais, em realidade, chancela os assassinatos.

Na era da hipocrisia, tenta-se justificar tudo com uma oratória vazia, enquanto o excesso de imagens normaliza a tragédia. Em todos os cantos, tudo parece endossar ideias preconcebidas de superioridade racial. Culpam-se os inimigos, mata-se por ‘engano’, mas o termo ‘engano’ é usado como se quisesse suavizar o real: e é esse mesmo ‘engano’ que carrega racismo, intolerância, exclusão e corrupção. Nessa era, bastam palavras para não se fazer nada.

Nas redes sociais, a saturação de imagens da guerra já não consegue provocar estarrecimento na população – por isso, logo se busca outra notícia, outra informação. Por não conseguir suportar a realidade e não compreender a indiferença global, muitos navegam em águas rasas. Se antes das redes sociais o poder de manipulação vinha do fato de mostrar poucas imagens ou de selecionar o que o público podia ver, hoje a estratégia mudou: a superexposição – o excesso de imagens sobre a morte de pessoas inocentes na Palestina – entorpece e impede reações profundas. Enquanto as nações estão apenas assistindo, a fuga se dá ao rolar o feed das redes sociais (scrolling), como uma forma de fuga da realidade.

A hipocrisia midiática tradicional ainda tenta se conciliar com os interesses do tirano; a linha editorial e a mensagem desidratada afogam a razão. Felizmente, o número de israelenses que querem o fim da guerra em Gaza começa a aumentar. Não existe corrosão que dure para sempre; em algum momento, a razão retoma, ainda que os efeitos da ausência dela sejam irreversíveis. Se as lideranças globais apenas observam, talvez o próprio povo reconheça o tirano que está no comando.

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