Passou o tempo.
Há dez anos, se sucedem os signos.
Uma fogueira esteve gotejando fogo, do centro do céu, durante toda uma noite.
Um súbito fogo de três caudas ergueu-se do horizonte e voou de encontro ao sol.
Se suicidou a casa do deus da guerra, se incendiou a si mesma: lhe arrojavam cântaros de água e a água avivava as chamas.
Outro templo foi queimado por um raio, uma tarde em que não havia tormenta.
A lagoa onde tem seu assento a cidade, se fez caldeira que fervia. As águas se levantaram, candentes, altas de fúria, e levaram as casas e arrancaram até os alicerces.
As redes dos pescadores ergueram um pássaro cor de cinza misturado aos peixes. Na cabeça do pássaro, havia um espelho redondo. O imperador Montezuma viu avançar, no espelho, um exército que corria sobre patas de veados e escutou os seus gritos de guerra. Depois, foram castigados os magos que não souberam ler o espelho nem tiveram olhos para ver os monstros de duas cabeças que acossavam, implacáveis, o sono e a vigília de Montezuma. O imperador encerrou os magos em jaulas e condenou-os a morrer de fome.
Cada noite, os alaridos de uma mulher invisível sobressaltam a todos os que dormem em Tenochtitlán e em Tlatelolco. Filhinhos meus, grita, pois já temos de ir-nos longe! Não há parede que não atravesse o pranto dessa mulher. Aonde iremos, filhinhos meus?
Eduardo Galeano, "Os Nascimentos"
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