quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A guerra dos 100 mil anos

Nunca houve guerras boas. Todas trazem sofrimento para muitos e ganhos para alguns. Contudo, a situação atual confirma o ditado popular de que “nada está tão ruim que não possa piorar”. Dito e feito: o que já era ruim ficou pior.

Além da destruição normal provocada por qualquer conflito, hoje em dia as guerras estão tornando ainda mais difícil o esforço da humanidade para conter o aquecimento global. Segundo o Serviço de Mudanças Climáticas europeu (Copernicus), em 2023 a temperatura do planeta foi a mais elevada dos últimos 100 mil anos.


De maneira pontual, as guerras modernas em si já provocam aumento das emissões de gases efeito estufa, resultante do aumento da queima de combustíveis fósseis pelos veículos e equipamentos utilizados.

Porém, as guerras podem provocar outros impactos mais sutis (e muito mais expressivos) sobre o enfrentamento do caos climático, que vem se mostrando iminente. Um deles tem a ver com a pergunta central no debate da mudança climática: quem vai pagar a conta?

Basta observar a dificuldade dos governos europeus e do americano em defender uma provisão orçamentária para a prevenção e adaptação às consequências da mudança climática. Quando uma guerra começa, o dinheiro disponível é direcionado para o mercado de defesa. É o que está acontecendo com os conflitos da Ucrânia e de Gaza.

No caso ucraniano, a nova guerra atingiu a oferta de grãos e o mercado de fertilizantes. Pela primeira vez na história, a crise dos alimentos alcança a escala de ‘elemento estratégico’ para os países.

Na correria dos europeus para garantirem sua independência alimentar e energética, abandonou-se acordos multilaterais que vinham tratando da transição da matriz de energia, descarbonização da economia etc.

Por sua vez, o parlamento dos EUA, de maioria republicana, aumentou sua resistência à destinação de recursos para cooperação ambiental mundo afora diante da prioridade de apoio a Israel e Ucrânia.

Nesse cenário aquecido, se a humanidade quiser realmente esfriar o planeta precisará, antes de mais nada, esfriar a cabeça.

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