O primeiro é o dos cínicos, que sempre conheceram Bolsonaro e nada do que ele fizesse os surpreenderia. São os seus colegas de Brasília, para quem, com ele na Presidência, haveria dias prósperos pela frente. É também o de certos empresários, de quem Bolsonaro há muito se aproximara e que sabiam que, sob sua asa, podiam dispensar os escrúpulos. E de uma casta de policiais, operadores de dinheiro vivo, pequenos pilantras e a turma da pesada, capaz de valentias, queima de arquivos e execuções.
Um segundo grupo é o dos que desconfiavam que Bolsonaro não era flor que se cheirasse, mas o apoiaram na certeza de poder controlá-lo, de botá-lo sob a hierarquia. São basicamente os militares. Havia os ingênuos, que sabiam do seu prontuário de caserna e do que já fora capaz —insubordinação, baderna, terrorismo—, mas para quem, como presidente, ele não repetiria as indisciplinas de capitão e poria o país nos eixos, "como em 1964". E os gorilas assumidos, para quem Bolsonaro era a porta para a ansiada volta à ditadura, da qual o Brasil "nunca deveria ter saído".
E um terceiro grupo, o dos crédulos, bovinos e pascácios, que, por não o conhecerem, deixaram-se hipnotizar pela sua fantasia de vestal, viram-no como um enviado do divino e acreditaram que, com ele, seria o fim da roubalheira.
Os políticos não se alteram pelo Bolsonaro golpista e os militares se recusam a vê-lo como genocida. Mas os pascácios, com razão, não gostam de ladrões.
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