sábado, 10 de dezembro de 2022

O segredo da volta por cima

"Entre o Exército e o militarismo, vai um despenhadeiro. O militarismo é a canceração do Exército. Está para o Exército como o clericalismo para a religião, o demagogismo para o governo popular, o egoísmo para o eu. O militarismo pode trazer vantagens a militares esquecidos do voto profissional. Mas, para o Exército, é o descrédito, a ruína, o ódio público. Ora, a política no Exército leva fatalmente ao militarismo. Entre o Exército e a política se deve, portanto, levantar a mais alta muralha."


Quem disse isso? Um solerte esquerdista? Não —Rui Barbosa, em 21 de junho de 1893, no Jornal do Brasil. Se vivesse em nosso tempo, o baiano ficaria estarrecido ao ver como o Exército brasileiro entregou-se a um presidente que militarizou a política e politizou as Forças Armadas a grau jamais concebido. E, mais incrível, como esse presidente foi um elemento que, entre o final dos anos 1980 e o início dos 1990, era persona non gratissima na corporação —militar expulso por terrorismo e, já como político, proibido por ela de entrar nos quartéis.

O longo caminho de Jair Bolsonaro para reverter tamanho opróbrio e tornar-se chefe supremo dessas mesmas Forças Armadas, com poder para acoelhar generais, tratá-los como recrutas e insuflá-los ao golpismo, está no livro "Poder Camuflado", de Fabio Victor, de que falei aqui na quinta-feira. Os detalhes de como isso se deu não cabem neste espaço. É ler para crer como um sujeito aparentemente tão tosco pôs a seus pés homens que se pretendem estudiosos, responsáveis e justos.

Talvez Bolsonaro não fosse tão tosco. Talvez tenha aprendido a ler a cabeça dos militares que, no passado, estabanadamente desafiara. Talvez os tenha convencido de que, no poder, botaria em prática as ideias deles. Talvez por isso os militares passassem a ver nele o messias cuja volta esperavam.

Não tem como errar. Todas as opções acima estão corretas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário