Certa vez, num táxi do Recife, tive de ouvir a conversa irritada do motorista contra tudo que era político. “Tudo ladrão. Num tiro ninguém”. Dizia ele, enquanto batia com a mão direita no volante. Era um homem indignado com a corrupção.
Quando chegamos ao pátio da Alfândega, eu perguntei quando devia. Ele puxou a tabelinha, que complementava a marcação do taxímetro, e respondeu: “Vinte e sete reais”. Eu pedi pra ver a tabela. E tava lá, dezessete reais. Ao ser flagrado querendo surrupiar dez reais, ele pediu desculpas e disse que tava com a vista turva. Não resisti e respondi: “O senhor tem razão, num tire nenhum. É tudo ladrão”. Fechou a cara e eu fechei a porta. E fui ser roubado na livraria.
Na estrada federal que passa por Itaú e vai até Pau dos Ferros, estrada do PAC, que serve de onomatopeia quando o carro passa pelos buracos, pac pac, eu viajo nela quase todos os dias. Com menos de seis meses da sua conclusão já está cheia de remendos e buracos. Mais buracos que remendos.
Pois bem. Alguns moradores de pequenas casas na beira da pista resolveram faturar algum. Enchem um carro-de-mão com barro e vão, com uma pá, tapar os buracos. Quando se aproxima um veículo, eles jogam o barro no buraco. E estiram a mão pedindo um trocado. Ao passar e olhar pelo retrovisor você vai ver o mesmo barro sendo retirado do buraco e devolvido ao carro-de-mão. Pra eles é melhor que o pac continue no pac pac.
Na Semana Santa, alguns moleques aproveitam os quebra-molas das pistas urbanas para fazer uma espécie de pedágio. Quando o carro modera, eles esticam um cordão segurado nas pontas, nos dois lados da estrada. “Uma ajudazinha pro Judas, meu senhor”. É o pedido. Numa dessas paradas, eu dei duas moedas de um real, ao menino de meu lado. O outro moleque do lado direito, perguntou gritando: “Quanto o coroa deu”? E o que havia recebido os dois reais respondeu de pronto: “Deu cinquentinha. Tem vinte e cinco seu”. Pronto. O pobre do Judas, deitado ao sol, na beira do caminho, com sua boca vermelha e olhos negros, acabara de perder um real e meio.
O povo é sábio e honesto? Pode até ser sábio, mas é colega da tchurma. Não fosse assim os eleitos em cada pleito seriam outros. São os mesmos e seus descendentes.
Taí a pátria que nós temos. Da disputa entre a dominação corrupta e a santidade canalha. Té mais.
François Silvestre, Novo Jornal (Natal-RN)
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