quarta-feira, 4 de maio de 2022

Enquanto o bolsonarismo faz barulho, o Brasil sofre

Em março, o Brasil registrou a mais alta inflação para o mês em 28 anos, com um litro de gasolina custando agora mais de R$ 7. Ao mesmo tempo, a renda média dos brasileiros nas regiões metropolitanas caiu e atingiu uma mínima histórica (R$ 1.378) – o menor rendimento domiciliar per capita em dez anos. A taxa de desemprego do país deve ficar entre as mais altas do mundo em 2022 (13,7%). O desmatamento da Floresta Amazônica atingiu novos recordes no primeiro trimestre deste ano. Mais da metade da população do Brasil – 116 milhões de pessoas – vive com algum grau de insegurança alimentar.

Mas o que o país está discutindo? Que tema domina as manchetes? Com que assunto o presidente Jair Bolsonaro orgulhosamente preenche seus discursos? Sobre o que se fala no Congresso? Sobre um homem chamado Daniel Silveira. Alguém que, em tempos normais, seria completamente sem importância. É somente graças ao bolsonarismo que ele conseguiu se destacar no Brasil. Faz parte do bolsonarismo catapultar pessoas periféricas e muitas vezes extremamente desagradáveis para os holofotes, onde roubam nosso tempo e atenção.


Olhemos rapidamente para a ficha corrida do deputado Silveira, que costuma dizer que tem orgulho de já ter sido preso "mais de 90 vezes" pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. Em abril de 2007, Silveira, que então trabalhava como cobrador de ônibus, prestou depoimento na delegacia de Polícia Civil de Petrópolis sobre o uso de atestados médicos falsos no trabalho. Em 2011, Silveira foi reprovado numa pesquisa social exigida pela Polícia Militar para o ingresso na carreira. Ele só conseguiu ser integrado em 2014, após recorrer à Justiça.

Durante sua carreira como PM, Silveira acumulou faltas injustificadas por oito meses, entre 2015 e 2016. Nos Carnavais de 2015 e 2016 estava escalado para trabalhar, mas não apareceu. Ao longo de cinco anos, nove meses e 17 dias como policial militar, contabilizou 26 dias de prisão, 54 de detenção, 14 repreensões e duas advertências.

O histórico criminal de Silveira inclui também a invasão de um colégio no Rio sob o pretexto de contestar o método de ensino e uma agressão a um jornalista por ter se sentido incomodado com suas perguntas. Silveira ganhou notoriedade em 2018, quando vandalizou uma placa com o nome da vereadora assassinada Marielle Franco.

Silveira é o típico bolsonarista: barulhento, prepotente, agressivo, medíocre e sem contribuições para o bem do país. Mas o presidente se disse "orgulhoso e feliz" por ter lhe concedido um indulto depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) o condenou à prisão por ataques contra a ordem constitucional. Para Bolsonaro, Silveira é um herói, alguém que ele convida para viajar junto com ele no avião presidencial.

Bolsonaro diz que, assim, defende a liberdade de todos. Como se a liberdade fosse o direito de infringir regras e leis. Como se a liberdade não implicasse também responsabilidade. Como se todos pudessem dizer e fazer o que quisessem sem medo de enfrentar consequências. É uma ideia infantil de liberdade.

Apesar dos enormes problemas do Brasil (ver acima), a nação está agora novamente discutindo uma suposta "crise entre os Poderes". Alguém se lembra de quantas "crises entre os Poderes" já houve desde que Bolsonaro está no poder? Na verdade, trata-se do "método Trump", que Bolsonaro tem estudado diligentemente e volta e meia aplica com sucesso. É sempre o mesmo jogo. O presidente e seus adeptos nas redes sociais e na política desafiam, provocam e ameaçam o STF para distrair, confundir, dominar as manchetes e mobilizar a base radical. E a mídia joga o jogo deles. As capas dos jornais deveriam ser dedicadas todos os dias aos 19 milhões de brasileiros que passam fome atualmente – um dos maiores escândalos neste rico país. É óbvio que o governo não tem interesse em falar sobre isso. É por isso que agora se discute a suposta crise institucional.

Bolsonaro se candidatou com a promessa de fazer valer a lei no Brasil. Disse que queria acabar com a corrupção e o crime e restabelecer valores tradicionais. Na verdade, o bolsonarismo despreza valores tradicionais, a lei e regras de convivência. Sempre se acha no direito, e, como uma criança mal-educada, começa a gritar, chorar e ficar agressivo quando não consegue o que quer. A cúpula do bolsonarismo é composta por pessoas sem respeito pela lei e as instituições.

Um acontecimento recente que ilustra perfeitamente a mentalidade do bolsonarismo foi protagonizado pelo ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. Foi a um aeroporto com uma arma carregada que não soube segurar e disparou um tiro colocando a vida de muitas pessoas em risco. Existe uma imagem melhor para a prepotência, a incompetência e o perigo que o bolsonarismo representa?

Enquanto isso, o país sofre.

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