sexta-feira, 29 de abril de 2022

A paz como fundamento da democracia e da sustentabilidade

Os conflitos e as guerras regionais colocam em evidência a insustentabilidade da sociedade contemporânea.

Como estamos pensando e nos posicionando frente a esta complexa realidade?

O conflito militar envolvendo a Ucrânia e a Rússia é uma das pontas do iceberg que expressa as contradições do mundo em que vivemos, onde a cultura da guerra fria ainda sobrevive através principalmente dos EUA e dos seus aliados da OTAN, frente a uma realidade mundial multipolar que apresenta a China, a Rússia, o Japão e a própria União Europeia como atores relevantes do atual cenário internacional.

Desde fevereiro, o conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia ocupa papel de destaque no noticiário internacional. Envolve diretamente os EUA, a OTAN, a União Europeia e, indiretamente, a China. São disputas geopolíticas, como aconteceu e acontece hoje em diversas regiões do planeta, inclusive durante o século XX no desencadeamento das duas guerras mundiais e no período da guerra fria.



Hoje, por exemplo, qual seria a razão de existir da própria OTAN? Como sabemos, ela foi criada depois da segunda guerra mundial para impedir a expansão da ex-União Soviética, que não mais existe desde 1991. Como estão e vão se desenvolver as relações entre os EUA e a China e o papel da União Europeia e da Rússia neste contexto?

São questões a serem colocadas para um melhor entendimento do atual cenário internacional e o papel dos distintos atores envolvidos.


Portanto, a guerra na Ucrânia coloca em cheque o anacronismo das organizações multilaterais, a exemplo da ONU que ainda funciona com a lógica dos vencedores da segunda guerra mundial, com o poder de veto da Rússia (substituindo a URSS), EUA, China, Inglaterra e França.

Segundo a ONU, existem atualmente no mundo 30 regiões em conflito, a maioria armados. Os conflitos envolvem disputas territoriais, diferenças étnicas, religiosas e recursos naturais, inclusive a água. Existem zonas de tensão geopolítica, a exemplo da Coreia do Norte, do Irã e da Palestina. Ainda movimentos separatistas que criam instabilidades políticas e econômicas regionais, como na Irlanda do Norte, no Pais Basco e na Catalunha (Espanha), no Quebec (Canadá) e na Colômbia, entre outros.

Em tempo real, de maneira dramática e espetacular, o mundo acompanha a tragédia da Ucrânia. Enquanto pouco é noticiado em relação aos conflitos regionais que acontecem na América, na África, na Ásia e na própria Europa, há décadas.

Assim, estão em disputa os modelos de hegemonia a nível internacional: a unipolaridade dos EUA consagrada após o esgotamento do modelo soviético em 1991 ou a perspectiva de um mundo multipolar – processo em andamento, um mundo onde a União Europeia, o Japão, os BRICKS, aqui incluídos a China e a própria Rússia entre outros países, teriam uma participação mais efetiva na ONU e nos Organismos Multilaterais, construindo uma nova ordem mundial, mais ampla e aberta à cooperação internacional.

Sob qual perspectiva nos colocamos? O que temos a dizer como sociedade brasileira e mundial no processo de construção de uma cultura de Paz como caminho da sustentabilidade do planeta e da própria humanidade?

Os desafios atuais e o futuro

Neste contexto mundial é que devemos avaliar as guerras e os conflitos regionais ora em curso e os impactos das declarações e ações das principais lideranças dos EUA e da Europa, destacando ainda a China, a Rússia e os países diretamente envolvidos nas guerras e conflitos regionais.

A lógica da guerra, de resolver os conflitos entre os países, manu militare, não interessa à maioria da humanidade. Interessa aos complexos industrial e militar historicamente construídos, consolidados nos tempos da guerra fria e que sobrevivem até à atualidade, trazendo aos senhores da guerra lucros fantásticos no processo de destruição e reconstrução dos territórios atingidos pelos conflitos, matando, na maioria das vezes, as crianças, a juventude e a população civil em geral, além de destruição da própria natureza, da arquitetura e da cultura milenar da humanidade.

O imperativo que se coloca é a luta em defesa e ampliação da democracia como caminho para a construção de novas relações centradas na vida e na preservação da natureza, colocando a cultura e a educação para a Paz como fundamentos de novas relações nacionais, continentais e internacionais.

A pactuação desta construção, através do diálogo e da cooperação permanentes, são desafios colocados às dificuldades que estamos vivendo no Brasil e em toda a humanidade, ainda em pandemia. A pandemia e, particularmente, os conflitos regionais e os impactos das mudanças climáticas desnudam as fragilidades dos sistemas políticos, econômicos e sociais em que vivemos, desafiando a humanidade na perspectiva de construção de novas relações entre sí e com a própria natureza.

A sociedade desnudada pela pandemia nos agride no Brasil e em qualquer lugar do Planeta: nas ruas e nas redes, é visível a tragédia social de milhões de pessoas, à margem das conquistas sociais elementares: educação, trabalho, alimentação, moradia, saúde-saneamento básico, mobilidade e uma renda básica, assegurados na Declaração Universal e nas Constituições Nacionais, inclusive na atual Constituição brasileira.

A tecelagem de uma alternativa democrática às crises política, econômica, social, sanitária e ambiental em que vivemos nos desafia a construir de maneira inadiável a unidade das forças democráticas, dialogando com o mundo do trabalho e da cultura para a mobilização de uma frente democrática que garanta o Estado de Direito e o exercício da Cidadania garantindo a melhoria de vida da população brasileira e da planetária. Há espaços, no Brasil e no mundo, para a construção de novas relações políticas, econômicas e sociais, direcionando os investimentos hoje utilizados para a guerra a favor da cultura, da educação e da ciência & tecnologia, no enfrentamento dos reais problemas econômicos, sociais e ambientais da humanidade.

As sustentabilidades política, econômica, social e ambiental planetária estão em pauta. Estamos desafiados à construção de sociedades democráticas no caminho de uma cultura de paz para o Brasil e para toda a humanidade.

Portanto, a luta pela Paz é a luta pela Sustentabilidade do Planeta, é a luta pela Vida de cada um de nós. A política, a diplomacia e a cidadania mundial devem juntas agir no sentido de resolução dos conflitos militares, dos refugiados ou de qualquer outro tipo. A ONU deve ser o espaço privilegiado no caminho de resolução dos conflitos militares entre a Rússia e a Ucrânia, de todos os outros conflitos militares ou de qualquer natureza em curso no planeta. Cada ser humano é importante, independente da sua nacionalidade, da sua pele, opção sexual ou religião.

Assim, como nunca, devemos trabalhar e lutar por uma cultura de Paz. Afirmar e reafirmar os valores que nos fazem humanidade: a cooperação, a solidariedade, a luta pela igualdade, liberdade e fraternidade, valorizando , defendendo e consolidando a democracia como caminho e instrumento fundamental deste processo.

Os caminhos e as alternativas estão colocadas: as opções entre a democracia e a barbárie continuam postas. É um processo permanente, em construção. A questão democrática, a sustentabilidade e a cultura da paz se colocam como valores para a sociedade contemporânea nas suas relações entre si e com a própria natureza, no caminho de sermos uma melhor humanidade.

Estamos desafiados!

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