Temos o primeiro presidente a buscar ser reeleito sem ter sequer um partido, que não lidera as intenções de voto, que tem o governo mais mal avaliado desde que o instituto da reeleição foi criado, que ostenta o maior índice de desempregados e que é, de todos os que disputaram novo mandato, aquele cujo governo enfrenta a maior inflação (acima dos 10% em 12 meses) um ano antes do pleito.
Saindo dos índices mensuráveis, quando se entra na seara política, o que se tem é um presidente isolado, inconfiável aos olhos das instituições, cujas decisões passaram a ser manietadas, quando não abertamente tuteladas, pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Congresso.
Um quadro assim é de difícil reversão. Daqui até o fim do ano, os dissabores no caminho de Bolsonaro tendem a se avolumar. Outubro terminará com o presidente indiciado pela CPI da Covid e com seus crimes, de responsabilidade e comuns, cometidos na gestão da pandemia enunciados em voz alta. Provavelmente o aliado Augusto Aras não fará nada com isso, mas os propósitos de registro histórico, denúncia internacional e reparação para os milhões de enlutados da pandemia tratarão de aumentar a queda livre de popularidade do capitão.
Novembro e dezembro serão meses de desespero orçamentário. E é um risco ter alguém como Bolsonaro, sem apreço algum a equilíbrio, do fiscal ao democrático, assim acuado. Lula tende a consolidar sua liderança, as definições de candidatos no campo do centro devem avançar, e ao presidente só restarão os truques populistas para tentar se viabilizar eleitoralmente.
Paulo Guedes ainda resiste aos apelos pela prorrogação pura e simples do auxílio emergencial, o que desobrigaria o governo de tirar uma receita da cartola para cobri-lo, ou aos palpites para que o benefício seja elevado para além dos R$ 300 com que aquiesceu. Mas está nas cordas diante da necessidade de explicar as condições em que manteve ativa uma empresa offshore enquanto esteve no posto, e seus adversários, na oposição e no governo, estão dispostos a explorar isso.
Além disso, mesmo se resolver fazer o milagre do crescimento do Bolsa Família afetando responsabilidade fiscal, o governo ainda tem um caminho tortuoso pela frente, que passa pela aprovação da reforma do Imposto de Renda e de uma Proposta de Emenda à Constituição que dê um verniz de legalidade à pedalada com precatórios. Isso tudo num Congresso em que senadores e deputados estarão cada vez mais preocupados com a própria reeleição e medirão sempre a conveniência de se atrelar a um governo em franca decomposição.
Tudo isso significa que Bolsonaro é carta fora do baralho e o segundo turno sem ele é o cenário mais provável? Não. Com o instituto da reeleição, o peso da máquina e da vantagem de o governante disputar no exercício do mandato é imenso.
Basta lembrar que Dilma Rousseff se reelegeu na bacia das almas, contando com um marketing de destruição dos rivais e adiando o cavalo de pau numa economia que já ruía.
Bolsonaro pode barbarizar no fiscal e ainda recorrer a toda a caixa de ferramentas de crimes virtuais usada em 2018 sem controle da Justiça Eleitoral nem o devido cuidado por parte da imprensa e dos adversários. Sua intenção de tentar inclusive melar o pleito, se for preciso, está dada.
Por tudo isso, a candidatura Bolsonaro vai aprofundar o estrago ao Brasil que sua Presidência acidental e desastrosa já causou. Será mais um ano de crise permanente.
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