“Sou trans e quero ser respeitada. Meu corpo, minhas regras.”
Incrédulo, talvez com a pressão um pouco baixa, tirei meus óculos, sacudi a cabeça, e, ao torná-los ao rosto, fiz como recomendava Guimarães Rosa a Miguilim – mirei bem a mensagem antes de novamente a ler.
Foi quando pude entender que a deputada se reportava a um vídeo de internet com pessoas que se autodeclaravam “transvacinadas” e ostentavam em suas camisetas o seguinte slogan: “me sinto vacinado em um corpo não vacinado”.
O grupo, que passaria despercebido, não fosse o impulso de autoridades da República como Zambelli, afirmava ser discriminado por sentir seus corpos resistentes e protegidos contra a COVID-19, mesmo não tendo recebido a vacina.
O movimento parece que tem até uma pauta definida de reivindicações, que, em suma, se resume no desejo de sua escolha antivacinal ser tratada com a mesma liberdade e respeito social destinados a indivíduos transgêneros.
O leitor deve estar pensando: é piada. O governador Doria mexeu tanto nos feriados em São Paulo que deve ser primeiro de abril no calendário do colunista, e ele está nos pregando uma peça.
Antes fosse, caros leitores. Seria uma piada ruim, grotesca, mas ainda assim seria uma piada. No entanto, sinto pena de dizer que essa gente, de fato, existe, e tem ganhado espaço em razão da simpatia, mesmo que jocosa, pouco importa, de celebridades bolsonaristas.
Nesses termos, o assunto, claro, atraiu a contrariedade de grupos que defendem os direitos de indivíduos transgêneros, e que viram na bandeira dos “transvacinados” uma tentativa de ridicularizar a sua própria.
Tem razão o inconformismo dos transgêneros. Mas, quem me conhece, sabe o quanto defendo a liberdade de expressão e de manifestação de todos, e, portanto, vou arriscar um conselho aos transvacinados.
Troquem de nome. Passem a se chamar “idiótes”. Assim mesmo, com acento agudo e terminação em “es”.
Segundo a lição do filólogo alemão Werner Jaeguer, o termo “idiótes” é grego, tem origem no século IV a.C, e foi cunhado para designar indivíduos que não se enquadravam na comunidade, vivendo enfiados em seu próprio mundinho, em torno apenas de seus próprios apetites.
Acredito que a definição se encaixe como uma luva ao movimento.
E quem sabe, com o tempo, e o apoio de tanta gente importante, o grupo não cruze rios e montanhas, desbrave fronteiras, e de posse de seu nome grego possa cumprir pelo avesso o sonho de Platão, fundando a República dos Idiótes.
Enquanto isso, o uso do termo imporá um certo ar de intelectualidade, um quê de “chic”. Com a vantagem de não ofender a terceiros, e, de quebra, permitir ao grupelho e seus simpatizantes lacração certa na internet, dissimulando uma fingida adaptação à linguagem neutra.
Fica a dica.
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