quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Blindagem de Braga Netto na CPI mostra que o golpismo compensa

A comissão chegou a ouvir o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. Mas recusou-se a convocar o general Walter Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e atual ministro da Defesa.

Os senadores Humberto Costa e Alessandro Vieira apresentaram quatro requerimentos para que o oficial fosse inquerido. A CPI vai terminar sem que nenhum deles tenha sido votado.

Não foi por falta de motivo. Por mais de um ano, Braga Netto comandou o comitê de crise que deveria coordenar as ações do governo. O órgão se notabilizou pela inércia e pela falta de transparência.

O general deixou sua marca no atraso para comprar vacinas e na demora para levar oxigênio a Manaus. Além disso, comandou a reunião em que a médica Nise Yamaguchi tentou emplacar uma mudança na bula da cloroquina. A ideia só foi abortada porque o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, recusou-se a participar da trama negacionista.


O acanhamento da CPI encorajou Braga Netto a achincalhá-la. Em julho, o general emitiu uma nota em tom de ameaça ao presidente da comissão, Omar Aziz. Ele chamou o senador de “irresponsável” e “leviano” por criticar a participação de militares em malfeitos.

Renan Calheiros incluiu Braga Netto na lista de pedidos de indiciamento. No relatório que deve ser lido hoje, ele afirma que as “ações e inações” do general “são suficientes para que seja apurada possível prática do crime de epidemia”. É verdade, mas o oficial se beneficiou da falta de disposição para ouvi-lo.

Em conversas reservadas, senadores dizem que a CPI poupou Braga Netto para não melindrar o Exército e não ajudar Jair Bolsonaro a atiçar os quartéis. Se a razão foi essa, conclui-se que o golpismo compensa.

Ontem o deputado Jorge Solla tentou aproveitar uma audiência pública na Câmara para cobrar explicações ao general. Ele se sentiu à vontade para ignorar todas as perguntas sobre a pandemia. A atitude comprova que a CPI errou ao não obrigá-lo a depor.

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