Nada de dourar a pílula: estamos sob a vigência do mal. Ainda que não seja dita assim, com todas as letras, essa será a conclusão primordial do relatório da CPI da Pandemia, a ser apresentado e votado esta semana. Após seis meses de trabalho meticuloso, o resultado da apuração dos senadores, que trabalharam baseados em fatos e evidências, não poderá ser outro.
O relatório terá que oferecer uma narrativa sobre a atitude de pessoas que tinham o livre arbítrio para agir, mas escolheram não fazer o bem. O que resultou na morte de mais de 600 mil brasileiros. E também vai se aprofundar na origem de uma prática nociva e abusiva; e de como ela foi concebida. Um mal popularmente conhecido pelo nome de corrupção.
Esta CPI da Pandemia já é o maior e mais importante acontecimento político, sanitário, humanitário e ético deste ano. Político porque terá consequências inclusive eleitorais; sanitário porque se configurou como política pública de enfretamento à crise; humanitário e ético porque a corrupção, que ela tem a coragem de denunciar, é duplamente violenta.
Duas vezes violenta, sim. Em primeiro lugar porque toda corrupção é agressiva e perniciosa por si. Ela é naturalmente causa de injustiças e desigualdades sociais. Em segundo porque, nesta pandemia, foi o motivo direto de muito sofrimento. Tanto quanto a própria covid-19.
Desde fevereiro do ano passado, o brasileiro vem sendo vítima de grupos e de pessoas que se aproveitam de um drama para tirar proveito de bens públicos. É impressionante como os desonestos são ágeis quando têm que arquitetar maldades.
Houve milhares de mortes. O Ministério da Saúde deixou faltar oxigênio nos kits de intubação. Nós, humanos, fomos cobaias de medicamentos que, de antemão, já se sabia que não tinham indicação para a covid-19. O presidente e seus asseclas atacaram o uso de máscaras e as medidas sanitárias para conter o vírus. Eles também desencadearam uma campanha que atrapalhou a vacinação num primeiro momento.
Tem mais. Os planos de saúde não nos enxergaram enquanto cidadãos de direitos. Só como consumidores. Esses covardes todos viram que, na pandemia, não estávamos atentos e perceberam que era uma boa oportunidade de nos prejudicar. De surrupiar. De passar a boiada. E até de facilitar a morte de quem estava hospitalizado tendo em vista que “óbito também é alta médica”. Que merda!
O relatório da CPI da Pandemia nos oferece uma oportunidade de refletir sobre nossos políticos. Mostra, ainda, que a corrupção não é exclusiva desses, mas também dos empresários. Uns e outros, movidos pelo mal, agiram como verdadeiros serial killers.
Descobrimos fatalmente que somos impotentes e frágeis diante deste mal. E que esse tipo de demônio se realiza nas ações humanas. As pessoas podem personificar o mal, sim, quando têm a oportunidade de escolher. E é assim que optam pelas ações que prejudicam, matam, escravizam, levam à miséria e à dor. Foi o que aconteceu.
O mal da corrupção aprofundou ainda mais a pandemia, que já era terrível enquanto catástrofe “natural”. Mas, nós temos o antídoto certo contra o dragão da maldade: a nossa união e o nosso voto.
O ano de 2022 está batendo na porta, para nos vingar. E a Justiça, se quiser fazer o bem, tem o remédio certo: dar a ordem para a polícia colocar um par de algemas em cada um desses diabos.
Cícero Belmar
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