Nem de longe passava pela cabeça do major Quaresma promover uma guerra de fuzis em nome de Deus e da família contra comunistas imaginários. Seus delírios de Quixote suburbano eram mais modestos e não vinham embalados na camisa amarela com escudo da CBF. Aliás, se pensasse como seu criador, ele deveria odiar futebol, o "jogo do pontapé" trazido por estrangeiros.
Policarpo Quaresma idealizava um Brasil melhor e mais justo. Uma República que adotasse como língua oficial o tupi-guarani —sem imaginar que no futuro os índios seriam demonizados como arqui-inimigos do agronegócio— e um governo capaz de pelo menos eliminar a praga das saúvas. As formigas cabeçudas haviam dizimado seu experimento de agricultura doméstica, com o qual sonhava matar a fome do povo, a mesma fome que hoje atinge quase 20 milhões de brasileiros.
Veio a Revolta da Armada e o humilde major encheu-se de brios e esperanças nacionalistas. Enviou o célebre telegrama a Floriano Peixoto: "Sigo já!". No entanto, ao conhecer o Marechal de Ferro identificou nele "um ar de malfeitor", um político sem interesse verdadeiro pelo país.
Antes de ser morto por soldados de Floriano, Policarpo Quaresma questionou a causa à qual se dedicara: "Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la no intuito de contribuir para sua felicidade e prosperidade (...) Desde os 18 anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades".
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