quinta-feira, 13 de maio de 2021

Carta ao general Pazuello

O porteiro certamente o cumprimentava feliz: bom-dia, general! O zelador, honrado, dizia a todos que trabalhava no seu prédio. Imagino, Pazuello, que seus parentes também lhe tinham admiração, afinal o senhor é um general do exército brasileiro. O seu sobrenome era usado com orgulho: sim, respondiam altivos seus familiares, o general é o meu pai, meu marido, meu filho. O senhor foi longe. À sua maneira, chegou lá. É um grande feito, tanto que é lá que devia ter ficado: na admiração dos próximos, nas tarefas para as quais foi preparado.

No entanto, o senhor achou que podia ir além: aceitou, por vaidade travestida de patriotismo e abnegação, o convite para ser ministro da saúde. O senhor é general, não médico, a saúde é algo que claramente foge à sua compreensão. Parece óbvio, mas nos tempos que estamos vivendo a obviedade é uma benção para poucos. Imagino que mais de um parente — também o porteiro e o zelador, se tivessem oportunidade — tenha lhe avisado que o ministério da saúde não é lugar para militares. Ainda assim, arrogante e insensato, o senhor tomou o cargo.

Deu no que deu.


Graças à sua atuação, os casos se multiplicaram. O senhor, devo lembrar, não fez nada do que era preciso. Pelo contrário: ao respaldar as sandices do presidente, sua defesa da circulação sem máscaras, das aglomerações e da prescrição de remédios não só inúteis como nocivos, conseguiu disparar o número de mortos. Quando resolveu tomar uma atitude correta — comprar vacinas — foi imediatamente desautorizado pelo presidente. Sim general, o presidente, um ex-capitão, afastado do seu exército por mau comportamento. Foi esse ex-capitão que o desmentiu — sem razão — de maneira vergonhosa, obrigando o senhor ao ridículo de dizer ao vivo que um manda — ele — e o outro — o senhor — obedece. A sua família, o porteiro, o zelador, o Brasil todo assistiu a sua humilhação. O senhor, pusilânime, engoliu o desaforo e insistiu no erro.

Eram 15 mil mortos quando entrou, quase 300 mil quando o senhor foi demitido. Não consigo imaginar resultado pior e, veja bem general, ser demitido deste governo por incompetência é como ser expulso do bordel por mau comportamento. Na sua constrangedora saída, ainda insinuou que foi despedido por não atender aos pedidos de corruptos. Mais uma vez covarde, lhe faltou coragem para dar seus nomes.
 Leo Aversa

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