quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A maré não está nada boa para Bolsonaro

Seria melhor mesmo se Bolsonaro tivesse ficado de fora das eleições municipais, como pretendia inicialmente. Mas a tentação de humilhar seu arqui-inimigo João Doria era, claramente, grande demais. Entretanto, a aposta de que Celso Russomanno poderia derrotar em São Paulo o PSDB do prefeito Bruno Covas e, logo, indiretamente, de João Doria, saiu pela culatra. Russomanno começou, mais uma vez, forte, e depois afundou mais fortemente ainda.

Também em outros lugares, os candidatos de Bolsonaro tiveram um desempenho ruim. É claro que eleições municipais não necessariamente indicam tendências no plano federal, pois muitas vezes tratam de problemáticas locais. Mas, quando o presidente entra na briga, não tem como não avaliar o resultado. Portanto, seria esse desempenho ruim de Bolsonaro apenas um ponto baixo temporário ou uma tendência que deve levá-lo a enfrentar um destino semelhante ao de seu modelo, Trump?

Sempre é difícil fazer comparações e paralelos entre Brasil e Estados Unidos. Mas já que Bolsonaro se apresenta como o "Trump tropical" e tenta copiar seu modelo político, não há como escapar de uma busca por semelhanças.

Os EUA têm um sistema bipartidário no qual os republicanos de Trump se transformaram em uma direita radical com características antidemocráticas. Embora esse campo tenha perdido, Trump ganhou, ao mesmo tempo, cerca de 8 milhões de votos a mais do que em 2016. Com isso, se posiciona para um possível retorno em 2024 – desde que consiga manter o controle sobre os republicanos.



Já Bolsonaro e a direita radical e antidemocrática no Brasil não têm uma base partidária tão sólida quanto Trump. O presidente brasileiro está até sem partido, porque não conseguiu criar sua Aliança pelo Brasil. O PSL, com o qual ganhou de forma fulminante em 2018, conseguiu ganhar cargos nas eleições municipais, mas apenas em cidades pequenas.

Bolsonaro é, portanto, o one man show da extrema direita, sem qualquer apoio partidário. E com adversários perigosos no campo da direita. Assim, a direita moderada do Democratas e do PSD pode festejar vitória nessas eleições.

Por outro lado, a esquerda brasileira se saiu mal, sobretudo o PT, mas também PSB e PDT. Somente o PSOL cresceu, se consolidando cada vez mais como uma liderança no campo de esquerda. Mas isso não será suficiente para ameaçar Bolsonaro na eleição presidencial de 2022. A empreitada requer uma ampla aliança de forças democráticas moderadas, tanto da esquerda, como do centro à direita moderada.

Essa aliança existe nos EUA, onde os democratas atualmente unem socialistas, social-democratas e a direita democrática moderada. Juntos, levaram às urnas cerca de 11 milhões de votos a mais do que Hillary Clinton recebeu em 2016 e foram capazes de derrotar Donald Trump.

Mas será que tal aliança seria concebível no Brasil para as eleições de 2022? E quem seria o Joe Biden brasileiro para criar uma aliança tão ampla?

Ainda há um longo caminho a percorrer até as eleições de 2022. Mas se existe uma tendência, é o enfraquecimento do poder dos extremos, tanto de esquerda quanto de direita, que ainda dominavam as eleições de 2018.

Em vez disso, os brasileiros parecem ansiar por uma política menos agitada. Por uma figura como o presidente do Congresso, Rodrigo Maia, por exemplo, que poderia construir uma frente ampla contra Bolsonaro com tons mais calmos. Esse pode ser o sinal de novembro de 2020, um mês ruim para Jair Messias Bolsonaro.
Thomas Milz

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