A população pobre teve enorme dificuldade de cumprir as regras de isolamento social não porque goste de bater perna nas ruas à toa, mas porque milhões de brasileiros, por assim dizer, vendem o almoço para pagar o jantar ou vice-versa. Confinar as pessoas em casa teria sido possível se o governo tivesse a capacidade de distribuir o auxílio emergencial a quem realmente precisa, com boa vontade e presteza. Mas, não. Milhões de necessitados ainda não conseguiram sequer se cadastrar enquanto milhares receberam indevidamente, inclusive militares. A incompetência do governo federal é evidente também na falta de testes para a população, o que dificulta projeções sobre a doença.
Reportagem de Eliane Trindade, publicada nesta Folha, em 29/3, mostrou que o vírus pegou carona na primeira classe dos aviões para chegar ao Brasil. Hoje os mapas de incidência da contaminação mostram que a peste se alimenta do sangue das periferias. Estamos diante de um mal disfarçado projeto de eugenia. E o povo, apinhado em ônibus, trens e metrôs, vai sendo tocado como gado, rumo ao abatedouro.Cristina Serra
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