Na expectativa de voltar àquele cotidiano a que estávamos acostumados, todo mundo fala a mesma coisa, pensando no futuro próximo: “Quando tudo voltar ao normal eu vou me reunir com amigos, vou realizar antigos projetos” e por aí vai. Pensamos no “normal” achando que a vida lá fora ficou congelada quando nos recolhemos por causa da pandemia.
Também é comum repetirmos que nada será como antes. O que parece ser uma contradição para com o primeiro pensamento. Se nada será igual, como voltaremos ao que ficou? Quem assim pensa, afirma que haverá grandes mudanças porque a humanidade jamais enfrentou tanta tribulação com o medo do vírus. Ou com o trauma das restrições de liberdade devido ao confinamento.
Como será o novo normal? Pela televisão e mídias sociais vemos os países onde as regras de convivência começaram a ser flexibilizadas. A doença saiu da fase aguda e as pessoas voltaram às ruas e aos parques. Todas, de máscara. Seria essa a primeira imagem do novo normal? A máscara persistirá feito cicatriz de uma ferida mal curada?
A outra mudança, com certeza, repercutirá nos hábitos de higiene. Aprendemos a lavar as mãos. Ah, também descobrimos para que serve álcool em gel e álcool 70. Essa coisa de aprender a lavar as mãos, como herança de um momento tão doloroso, faz lembrar a epidemia de cólera nos anos 1990. O brasileiro se conscientizou da necessidade de se lavar frutas e legumes e ficou sabendo da utilidade do hipoclorito de sódio.
Mas, as nossas transformações seriam, assim, tão prosaicas?
Nem tão prosaicas, nem tão apocalípticas. Não seremos estrangeiros na nossa cidade e nem encontraremos um mundo em ruínas. Nada tanto assim. Hoje, quando falamos de novo normal no Brasil é apenas uma projeção para mudanças podem ocorrer, mas que também podem demorar a se processar.
Talvez seja mais útil viver o sentimento do aqui e agora, aprendendo com esse instante tão rico. Posso dizer que, no meu caso pessoal, está havendo uma mudança interna. Uma mudança do olhar. Definitivamente, não vejo mais o mundo e a vida como os via quando tivemos que abreviar o cotidiano.
Muitas pessoas devem estar em processos semelhantes a mim. Mas, cada um, chegando à própria conclusão. O sentimento para com esse momento é individual. O vírus traz um recado para cada pessoa em particular.
Esta, portanto, talvez seja a mudança que vai ditar o novo normal. Se todos mudarmos um pouco, para mais ou para menos, seremos outros quando nos reencontrarmos no novo normal. Nesse caso o universo, é claro, também será outro.
Cícero Belmar
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