Quem diz que há um lado bom, não sabe o que diz. Aprender a tocar violão, exercitar o inglês, organizar a casa, ficar mais perto da família, dos filhos... Válvulas apenas, instinto de sobrevivência para encarar o caos instalado no mundo. Questão de sanidade, higidez. Justíssimo. Quem pode, deve faze-lo.
Os miseráveis não tem essa brecha. O tempo e a fome tem pressa. Eles se amontoam nas filas da Receita Federal para regularizar a vida fiscal. Depois, se enfileiram, grudados um no outro, para receber a doação do governo, R$ 600,00.
Não, não há lado bom. O presente é incerto. O futuro não existe. Os isolados não vem filhos, netos, amigos. E há quem diga que o vírus maldito irá circular por muitos meses assombrando a população. Não apenas os idosos, ou os chamados grupos de risco. Todo o mundo, literalmente, vai conviver por meses com o espectro da doença e da morte.
Que lado bom é esse quando se tem no Brasil um desatinado eleito por mais de 50 milhões de brasileiros que se recusa a liderar o país no combate ao que mais aflige o mundo? Catástrofe anunciada. Lunático, amputa qualquer efeito do único remédio capaz de frear o mal, contrapondo-se à ciência e aos especialistas.
O lado bom na desorganização irresponsável desse governo poderia ser Luiz Henrique Mandetta. Ainda que de olho nas urnas, Mandetta estava num caminho mais seguro, com informações precisas e orientações relevantes para a população temente à tragédia. Seu brilho, apesar de fortuito, ofuscou ainda mais o raciocínio de um Bolsonaro parvo e incapaz.
Mandetta não é santo. Nem burro. Deixar agora o governo é a alternativa mais confortável para quem quer se candidatar em 2022 ao governo do seu Estado, ou num salto mais ambicioso, à presidência da República. Mandetta quer sair antes que os cadáveres se amontoem nas portas dos hospitais. De caso pensado, subiu o tom contra o chefe, em entrevista ao Fantástico, nesse domingo.
Entre o estúpido e o afetado, o lado ruim e o lado bom, ficamos nós. Mandetta tem todo o direito de pegar o chapéu. Cansou de ser desmoralizado publicamente. Quer abandonar o paciente. Quando o paciente morrer, ele já não terá nada a ver com isso. Resta saber se Bolsonaro demitirá Mandetta, como prefere o ministro. Ou aumentará a fervura. A corda está esticada, e não há lado bom.
E como se tudo isso não bastasse, lá se vai Moraes Moreira. Leva nossa pouca alegria e o exato sentido de liberdade. Não pode haver lado bom. É o Brasil descendo a ladeira.
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