Isso explicaria que Bolsonaro possa saracotear à vontade, tirar ouro do nariz e despejar perdigotos em sua claque --sabe que não contaminará nem será contaminado. Passa por valente e mostra que "tinha razão". O fato de que seu exemplo pode levar a milhares de mortes longe dali não lhe diz nada. "Terão mortes", ele já admitiu, esfaqueando a língua. "Paciência", resignou-se. Veremos o que dirá quando essas mortes começarem a se dar em massa entre seus eleitores --será como se os tivesse contaminado um a um.
Mas esqueça o Contaminador nº 1, que estimula o povo a apostar a vida enquanto a dele está garantida pela imunidade física e presidencial. Pense nos que, por arrogância ou ingenuidade, estão desprezando o confinamento. Ao sair para passear, comprar cerveja ou bater papo com a turma na esquina estão esbofeteando um profissional da saúde —que, neste exato momento, trabalha nas mais dramáticas condições e arrisca sua vida por eles. O mesmo sujeito leviano e insensível que se julga invulnerável pode vir a lamentar a falta de médicos —que também se contaminam— no posto a que precisará recorrer quando chegar a sua vez.
É duro saber que o vírus de que tais idiotas serão portadores atingirá médicos, assistentes, enfermeiros, anestesistas, faxineiros e até motoristas de ambulância, por mais protegidos que estejam.
Não será preciso esperar o fim do pesadelo para que os profissionais da saúde sejam alçados, sem discussão, à única categoria a lhes fazer justiça --a de santos modernos.Ruy Castro
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