quinta-feira, 26 de março de 2020

Lições que guardo comigo

O historiador, ensaísta, escritor, cientista político, antropólogo e colunista do jornal “O Globo” e do “O Estado de S. Paulo” Roberto DaMatta tem contado, em suas colunas quinzenais, histórias que envolvem pessoas queridas da sua família. São, sempre, histórias emocionantes e cheias de lições.

Lembrei-me dele por que amanheci hoje, depois de sono extremamente conturbado – com motivos de sobra –, com a mente povoada de boas e inesquecíveis lembranças do meu pai e das muitas lições que deixou aos filhos e aos seus alunos.

Aliás, os filhos eram também considerados alunos. No Instituto Padre Machado, nós, os filhos, éramos tratados assim, sem qualquer distinção, e ele fazia questão de fazer disso norma que passava aos professores.

O nome do colégio foi uma homenagem a um padre, educador idealista, que, por três vezes, tentou construir e dirigir uma Casa de Educação, mas falhou financeiramente em todas as três. O colégio foi fundado em São João del-Rei e, após alguns anos, foi transferido para Belo Horizonte. Uma aventura, que faz parte das suas memórias.

Meu pai era considerado por alguns amigos fiéis um homem desassombrado, vale dizer, bravo, corajoso ou sem medo. Ele, porém, nem sempre se considerava assim. Costumava dizer que o medo, ao contrário, é uma reação humana, que acontece com qualquer um. A questão está na capacidade que devemos ter, por meio de muito treino, de controlá-lo. Lembro-me de algumas histórias que contava sobre o horror da gripe espanhola (janeiro de 1918 a dezembro de 1920).

Pois bem. Hoje, sinto medo do que poderá acontecer não só aos velhinhos, mas, sobretudo, aos pobres, velhos ou novos, se a ciência, com a colaboração dos brasileiros, não encontrar rapidamente o chamado “bom combate”. Que depende, como disse, neste instante, do isolamento, apregoado dia e noite em todos os canais de comunicação social – jornal, rádio, televisão, redes sociais etc.

O volume de informação é realmente assustador. O leitor ou ouvinte desatento, que não sabe distinguir o que é verdadeiro do que é mentiroso, passa longe da capacidade de domínio sobre o medo, que se transforma em pânico.

O momento é de solidariedade de todos para com todos. Esta é a boa política, que deve ser praticada com urgência, principalmente por todos os agentes públicos espalhados por municípios, Estados e federação. Não é hora de vaidades ou de disputas internas ou ideológicas, mas de desassombro, firmeza, franqueza e destemor. E só.

O povo, ausente das ruas, dá ao governo boas lições. Guerra ao vírus e aos idiotas que o desconsideram!

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