sábado, 25 de janeiro de 2020

Esqueça a patriotada heroica. A estratégia do governo em relação à cultura é promover a censura, perseguir e expurgar servidores, atacar artistas (de esquerda ou não), aparelhar as instituições com militantes de extrema direita, liberar uma verbinha para os apaniguados. Nem reencarnando a Viúva Porcina Regina Duarte mudará esse quadro.

Para um pobre de espírito como Bolsonaro, cultura nunca fez o menor sentido, tampouco patrocinar uma "arte nacionalista", como propunha o —por ora suspenso— Prêmio Nacional das Artes. Exemplo do desprestígio, a literatura seria contemplada com "25 contos inéditos".


O Brasil sempre esteve na cabeça de nossos escritores. Até a atual presidente da Casa de Ruy Barbosa, Letícia Dornelles, conseguiria montar uma biblioteca nacional: de "Os Sermões", de António Vieira a "Os Sertões", de Euclides da Cunha", passando por "Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freyre, "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda, "Um Estadista do Império", de Joaquim Nabuco, "Formação da Literatura Brasileira", de Antonio Candido.

Provavelmente dona Letícia não incluiria em seu cânone das obras de formação "O Negro no Futebol Brasileiro", de Mario Filho —então incluo eu. Na ficção, "Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida, é o primeiro romance que se pode considerar brasileiro. Seguido de "Triste Fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto, "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, "O Tempo e o Vento", de Erico Verissimo, "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa. Na poesia, Gregório de Matos, Castro Alves, João Cabral de Melo Neto.

Publicado em 1984 —com a ditadura militar ainda viva—, "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro, vale por 10 mil aulas de moral e cívica. E os romances "Marrom e Amarelo", de Paulo Scott, e "A Morte e o Meteoro", de Joca Reiners Terron, ambos de 2019, são a cara do que está se passando e se tornando o país.

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