terça-feira, 23 de julho de 2019

O antiestadista

Costuma-se reservar a palavra “estadista” para designar líderes que se destacam dos demais políticos por enxergarem mais longe, serem capazes de elevar-se acima das divisões sectárias e fazer avançar agendas decisivas, que produzirão impactos positivos por décadas.

Jair Bolsonaro é o exato oposto disso. Ele não tem noção da estatura do cargo que ocupa, dedicando-se a questiúnculas que não deveriam chegar nem perto do gabinete presidencial, como o conteúdo de filmes que contam com financiamento público ou o número de pontos necessário para cassar a habilitação de motoristas. Pior, busca interferir nesses assuntos de forma personalista, com desprezo pelas instituições e contra consensos técnicos.


Bolsonaro também não desperdiça oportunidades de aprofundar as divisões políticas que tanto mal têm causado ao país. Ele abusa de pautas que não passam de nitroglicerina ideológica, investe contra governadores nordestinos e ataca, de forma pusilânime, desafetos e até profissionais que não corroborem suas singulares visões de mundo.

Não dá nem para afirmar que o presidente é sincero em suas convicções. Quando julga que há uma oportunidade para faturar, não hesita em renegar o discurso da véspera, como se viu no caso do acordo do Mercosul com a UE, duas entidades supranacionais, que foram demonizadas durante a campanha. Não estou reclamando. Seria pior se ele sempre levasse suas fantasias até o fim.

Mesmo quando seu governo tem êxitos a celebrar (e existem alguns), eles não raro foram objeto de sabotagem do próprio Bolsonaro, como vimos na reforma da Previdência —o que faz duvidar de sua inteligência.

Se não houver um desastre econômico, seguiremos nesse ritmo por mais três anos e meio. Podemos nos consolar com o fato de que colunistas brasileiros não enfrentamos o problema da falta de temas de política nacional que atormenta nossos homólogos suíços e noruegueses.

Hélio Schwartsman

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