Também estão fora de cogitação as mexidas no Código Florestal, a agenda de alterações no trânsito que ameaçam a segurança e uma lista sem fim de demandas de costumes do capitão reformado. Seria melhor que ele saísse para pescar (em local autorizado, evitando levar novas multas), enquanto as instituições tentam manter o País funcionando na normalidade. Quando o presidente anuncia que pretende “corrigir equívocos” no texto final da reforma para incluir aposentadorias especiais, quando afirma que vai colocar um ministro “terrivelmente evangélico” no Supremo – enquanto deveria se preocupar que ele fosse “terrivelmente” eficiente e competente, não importando o viés religioso -, quando ele persegue servidores ou os demite por motivos ideológicos, está gerando instabilidades em série. No limite, diante das estultices, Senado e Câmara ensaiam um rompimento, a “separação de corpos”, caso o Executivo sob jugo de Bolsonaro insista no desdém, deixando de negociar, dividir e adaptar os planos ao que é legal e de interesse da maioria dos brasileiros. A eventual ruptura viria justamente em um momento no qual a aprovação ao governo se encontra no patamar mais baixo. Jamais, desde Collor – que praticou o confisco e saiu impichado -, um presidente foi tão mal avaliado nos primeiros seis meses de mandato como Jair Bolsonaro. O capitão reformado já entendeu que o Congresso pensa seriamente em “divórcio”, deixando-o de lado e reclamou dias atrás que querem transformá-lo em uma “rainha da Inglaterra” sem mandar. Mal percebe, no entanto, que são os próprios caprichos que o estão colocando na posição de isolamento. Em um esforço destrambelhado para virar o quadro e responder ao movimento, partiu à ofensiva alegando que o povo, “meu patrão”, estava acima das instituições e que por ter sido legitimamente eleito devia lealdade absoluta a ele, podendo fazer em seu nome o que é devido. Esqueceu-se de que nesse aspecto não foi o único. Senadores e deputados chegaram pelo voto ao Congresso – considerada a verdadeira “casa do povo”. E tanto como Bolsonaro representam os anseios de diversos eleitores. Na contabilidade fria dos números, o “Mito” somou 38% de apoio no colégio eleitoral para alcançar o Planalto (muitos optaram por ele por falta de alternativas, não por serem seguidores fanáticos). O restante ou votou no adversário, ou anulou ou deixou de exercer o direito e está a reboque das deliberações do mandatário, mesmo não concordando com muitas delas, como mostra a pesquisa da ”Folha de S. Paulo” divulgada na semana passada. Nesse contexto seria mesmo aconselhável a pescaria para espairecer ou ensaiar uma volta ao presidencialismo de coalizão, sem o qual pode até mandar embalado pela claque de torcedores, mas não governa.
quarta-feira, 17 de julho de 2019
Bolsonaro deveria ir pescar
Também estão fora de cogitação as mexidas no Código Florestal, a agenda de alterações no trânsito que ameaçam a segurança e uma lista sem fim de demandas de costumes do capitão reformado. Seria melhor que ele saísse para pescar (em local autorizado, evitando levar novas multas), enquanto as instituições tentam manter o País funcionando na normalidade. Quando o presidente anuncia que pretende “corrigir equívocos” no texto final da reforma para incluir aposentadorias especiais, quando afirma que vai colocar um ministro “terrivelmente evangélico” no Supremo – enquanto deveria se preocupar que ele fosse “terrivelmente” eficiente e competente, não importando o viés religioso -, quando ele persegue servidores ou os demite por motivos ideológicos, está gerando instabilidades em série. No limite, diante das estultices, Senado e Câmara ensaiam um rompimento, a “separação de corpos”, caso o Executivo sob jugo de Bolsonaro insista no desdém, deixando de negociar, dividir e adaptar os planos ao que é legal e de interesse da maioria dos brasileiros. A eventual ruptura viria justamente em um momento no qual a aprovação ao governo se encontra no patamar mais baixo. Jamais, desde Collor – que praticou o confisco e saiu impichado -, um presidente foi tão mal avaliado nos primeiros seis meses de mandato como Jair Bolsonaro. O capitão reformado já entendeu que o Congresso pensa seriamente em “divórcio”, deixando-o de lado e reclamou dias atrás que querem transformá-lo em uma “rainha da Inglaterra” sem mandar. Mal percebe, no entanto, que são os próprios caprichos que o estão colocando na posição de isolamento. Em um esforço destrambelhado para virar o quadro e responder ao movimento, partiu à ofensiva alegando que o povo, “meu patrão”, estava acima das instituições e que por ter sido legitimamente eleito devia lealdade absoluta a ele, podendo fazer em seu nome o que é devido. Esqueceu-se de que nesse aspecto não foi o único. Senadores e deputados chegaram pelo voto ao Congresso – considerada a verdadeira “casa do povo”. E tanto como Bolsonaro representam os anseios de diversos eleitores. Na contabilidade fria dos números, o “Mito” somou 38% de apoio no colégio eleitoral para alcançar o Planalto (muitos optaram por ele por falta de alternativas, não por serem seguidores fanáticos). O restante ou votou no adversário, ou anulou ou deixou de exercer o direito e está a reboque das deliberações do mandatário, mesmo não concordando com muitas delas, como mostra a pesquisa da ”Folha de S. Paulo” divulgada na semana passada. Nesse contexto seria mesmo aconselhável a pescaria para espairecer ou ensaiar uma volta ao presidencialismo de coalizão, sem o qual pode até mandar embalado pela claque de torcedores, mas não governa.
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