No Brasil, ser repórter de política virou, ao mesmo tempo, diversão e escravidão. Os jornalistas realmente se divertem com as maluquices da família Bolsonaro e de seu governo, que é o mais enlouquecido da história, pois nem mesmo Jânio Quadros, eternamente de porre, conseguiu mais trapalhadas do que o atual presidente. Mas fazer a cobertura do governo virou também uma escravidão, porque o show é permanente, inclui fins de semana, feriados e viagens ao exterior.
Os repórteres não têm sossego, porque o espetáculo é apimentado pelas participações dos filhos Flávio (o Zero Um), senador pelo PSL-RJ; Carlos (o Zero Dois), que comanda à distância a Comunicação Social do Planalto; e Eduardo (o Zero Três), que se autoproclamou “chanceler informal” e dá ordens ao ministro do Exterior, que é uma espécie de Rainha da Inglaterra e não manda nada.
Além disso, há as sensacionais intervenções do escritor Olavo de Carvalho, o Rasputin virginiano, que saiu de cena, mas ainda manobra nos bastidores.
Analisado com atenção, o chefe do governo demonstra um comportamento bipolar. Muda de opinião com facilidade, é um vaivém incessante. Faria sucesso em qualquer divã, porque nem mesmo Freud explicaria o proceder de Bolsonaro, mesmo ajudado por Jung, Lacan, Pavlov, Pinel etc.
O fato é que Bolsonaro e os três mosqueteiros que eram quatro (seus filhos e o guru virginiano) não têm a menor ideia do que seja democracia. Se comportam como se tivessem inventado um reinado psicodélico, em que Legislativo e Judiciário ficam em segundo plano, mas Padre Quevedo esqueceu de dizer a eles que “isso non ecziste”.
Bolsonaro tenta reagir à influência dos filhos e de Olavo, mas tem recaídas. Às vezes, percebe que errou, como no caso do ministro Gustavo Bebianno. Arrependeu-se e ofereceu-lhe a diretoria de Itaipu ou as embaixadas da Itália e Portugal, a escolher, mas Bebianno recusou. Na semana passada, demitiu Santos Cruz e lhe ofereceu outro cargo no governo, mas o general não aceitou e saiu de fininho, sem dar entrevista.
Os atos administrativos são uma bagunça. O decreto das armas é um exemplo. Teria de ser uma medida provisória. Baixado como decreto, é ilegal, apenas uma peça de ficção. Em sentido inverso, o mesmo fenômeno se registra em relação à medida provisória para acabar com a contribuição sindical obrigatória. Poderia ser um simples decreto e já estaria em vigor, mas como medida provisória corre o risco de rejeição ou alteração pelo Congresso.
O certo é que Bolsonaro seguiu Raul Seixas e se transformou numa metamorfose ambulante. Ninguém sabe qual será a tendência do governo, porque o privatista Guedes está em baixa e as desonrosas demissões de Marcos Pinto e Joaquim Levy demonstram que Guedes não manda mais nada. Os dois eram da sua cota.
Se Guedes tivesse hombridade, seria solidário aos auxiliares e pediria o boné antes deles. Mas esse tipo de comportamento digno parece fora de moda e o ministro fez questão de dar entrevista tentando justificar a grosseria de Bolsonaro, que é injustificável.
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