Os números divulgados pelo IBGE na terça-feira mostram um quadro preocupante, expresso nessa espécie de ciclo vicioso. O Brasil fechou o primeiro trimestre com 13,4 milhões de pessoas desocupadas, o que corresponde a 12.7% da força de trabalho, 1,1 ponto ponto porcentual acima da taxa registrada no quarto trimestre de 2018.
Dentro do conceito de mão-de-obra subutilizada, que inclui quem trabalha menos do que poderia ou gostaria e também quem não está à procura de emprego, por desalento, esse contingente mais do que dobra — chegando a 28,3 milhões de pessoas. Praticamente empatado com a soma dos habitantes das cinco capitais mais populosas do País. Mais: nenhum setor apresentou um saldo positivo de contratações, nesse período.
Diante dessa dura realidade, é perfeitamente compreensível que o temor do desemprego volte a aumentar, como mostra o índice calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) — depois de recuo observado no fim do ano passado, acompanhando as expectativas otimistas manifestadas com a troca de governo, que, se imaginava, traria pelo menos uma redução de incertezas.
Bolsonaro já se mostrou bastante incomodado com a questão do desemprego. Melhor dizendo, com as estatísticas sobre desemprego. Ele chegou a levantar suspeitas sobre a correção dos critérios utilizados pelo IBGE, despertando fortes críticas de especialistas. Até o momento, porém, não se conhece nenhuma iniciativa específica do governo para pelo menos aliviar o quadro de desemprego no País, num prazo razoável.
É inegável que está em andamento, no mundo todo, uma reviravolta no mercado de trabalho, com a eliminação de várias funções e a criação de outras, principalmente na esteira da corrida tecnológica.
O Brasil, contudo, ainda não embarcou com força total nesse ciclo. A transformação de aplicativos como Uber e iFood nos maiores “empregadores” pode até dar a impressão contrária. Até o momento, porém, trata-se de mais um indicador da deterioração do mercado de trabalho, com até mesmo profissionais qualificados exercendo funções de motoristas ou entregadores de encomendas para garantir a sobrevivência. Um novo tipo de “bico”, mas ainda um “bico”.
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