Parecem coisas óbvias. Mas Bolsonaro tropeça no óbvio desde que chegou ao Planalto. Tomado a sério, o reconhecimento de que o"caminho é longo" vale por um desmentido. É como se o capitão pedisse à plateia para esquecer o discuso da campanha, que vendia soluções fáceis, disponíveis na virada da primeira esquina.
A segunda obviedade é ainda mais valiosa. Além de admitir que sua gestão arrosta "dificuldades iniciais", Bolsonaro fala em união para superá-las. Se não for da boca para fora, esse "unidos ultrapassaremos" pode representar um convite ao diálogo com gente que pensa diferente — algo que, para o capitão, seria revolucionário.
Caindo-lhe a ficha sobre a longa distância a percorrer, Bolsonaro talvez pare de jogar pedras no seu próprio caminho. Falou tanto em governar "sem viés ideológico" que acabou enviesando sua gestão. Atrasou o relógio até a Era da Guerra Fria. Vê comunistas embaixo da cama. Não notou que a ideologia —a sua ou a dos outros— é o caminho mais longo entre um projeto e sua realização.
Se o redator do discurso de 1º de Maio foi fiel ao pensamento do orador, Bolsonaro precisa deflagrar um processo de desintoxicação de sua retórica. Jamais roçará algo parecido com uma união se continuar caçando esquerdistas em universidades, censurando comerciais por ojeriza à diversidade, idolatrando polemistas e concedendo salvo-conduto aos filhos para plantar bananeira dentro da sua Presidência.
Ou o capitão se ajusta ou o caminho do seu governo pode não ser tão longo. Ao contrário, talvez seja bem mais curto do que o presidente imagina.
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