Em Davos, durante o Fórum Econômico Mundial, defendeu com presteza seu superior quando, em um debate sobre populismo, aventou-se a possibilidade de Bolsonaro ser um representante castiço da leva de autocratas que surgiram no mundo na esteira da frustração popular com a política, e que nada fizeram para combater a corrupção. Moro disse aos presentes que, diferentemente de Silvio Berlusconi na Itália, Bolsonaro tinha um discurso forte anti-corrupção e estava agindo para combatê-la. Era janeiro e o caso Queiroz estava em seu auge.
Naquele mesmo dia, soube-se que seu filho, Flávio Bolsonaro, empregou em seu gabinete na Alerj familiares de um dos líderes milicianos suspeitos do assassinato da vereadora Marielle Franco. Moro foi questionado por jornalistas em Davos e se limitou a dizer que não lhe cabia comentar sobre o tema.
Quando desconvidou a cientista política Ilona Szabó de integrar o Conselho Nacional de Política Criminal, um cargo não deliberativo e não remunerado, a pedido de Bolsonaro, o ministro agiu como soldado. Foi pragmático e não se abalou em ter sua autoridade soterrada pelo andar de cima. Cumpriu as ordens do chefe sem grandes demonstrações de pesar. Havia conhecido Ilona, ironicamente, durante o debate em Davos em que defendeu que Bolsonaro e Berlusconi não tinham nada a ver.
Quem observa o funcionamento do Ministério da Justiça enxerga em Sérgio Moro um estômago de avestruz e nenhum sinal de fígado. Ele estaria disposto a agir estrategicamente, engolindo críticas da opinião pública e evitando desgastes considerados desnecessários com o governo, em favor de um objetivo maior: conseguir aprovar o pacote anti-crime e outras medidas executivas que não necessitem de aval do Congresso, no intuito de concretizar um legado de combate à corrupção.
Moro trouxe para dentro do MJ expertise investigativa do COAF e de outros órgãos de controle. Tem, portanto, um núcleo de investigação dentro de casa. Como ministro, também tem a prerrogativa de pedir a instauração de inquéritos a um órgão subordinado, que é a Polícia Federal. Trata-se de um conjunto de atribuições nunca antes detido por um ministro da Justiça.
Os limites do estômago de Moro serão testados quando as ligações que receber do andar de cima não mais tratarem de assuntos banais, como o caso Ilona. Será educativo saber como o ministro lidará com indigestões.
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