Jair Bolsonaro fez dois discursos no dia de sua posse. Num, proferido no Congresso, propôs um “pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca de novos caminhos para o Brasil.” Noutro, lido no parlatório do Planalto, vaticinou: “O Brasil começa a se libertar do socialismo e do politicamente correto.”
Restara uma dúvida: o Brasil será presidido pelo Bolsonaro do “pacto” ou pelo herói da resistência antissocialista? Nesta quarta-feira, no Twitter, o novo presidente apontou a fala encrespada do parlatório como “discurso de posse”, apresentando-o como “o eixo do nosso governo.”
Como não há “pacto” possível sem desarmamento de espíritos, fica entendido que o discurso dirigido ao Legislativo era feito de abobrinhas protocolares. O miolo da picanha, que dará substância à ação do governo, está no pronunciamento endereçado à multidão reunida na Praça dos Três Poderes.
Aos que acreditaram na perspectiva de restauração da harmonia embutida no discurso em que falou em “unir o povo” e comandar o país sem “sem discriminação ou divisão”, Bolsonaro informa que continua pintado para a guerra, girando em torno do “eixo” da campanha eleitoral.
No discurso que ficou valendo, Bolsonaro atiça fantasmas ficcionais —“Nossa bandeira jamais será vermelha…”—, para se jactar de uma coragem desnecessária —“…só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela.” Ainda não se deu conta de que, se não direcionar suas energias para batalhas reais —a reforma da Previdência, por exemplo—a coisa tende a ficar preta.
Josias de Souza
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