Antigamente, leitor, mas não tão antigamente (no meu tempo, por exemplo), ninguém jamais aventurava sobre qual seria o sexo do filho (ou filha) que estava para nascer. Existiam crenças, provenientes das dedicadas parteiras. Às vezes, algumas delas acertavam – por sorte, experiência ou sabedoria. O médico nem sempre estava por perto, a não ser em algum parto crítico, que necessitasse de intervenção cirúrgica. Se a barriga tiver esse formato, será mulher; se tiver aquele, será homem – diziam avós entendidas do assunto. Você poderia preferir a vinda de um menino (ou de uma menina), mas todos eram sempre bem-vindos.
Lembrei-me dessa época porque o quadro eleitoral que velozmente se avizinha está totalmente imprevisível. Faz-nos recordar daquele outro dito: “De cabeça de juiz, barriga de mulher e urna eleitoral nunca se sabe o que virá”. E, também, porque li a crônica do jornalista Arthur Xexéo, “A falta da falta de assunto”, publicada no jornal “O Globo”, no último domingo. Xexéo despertou em mim, talvez mais do que nele, saudade de cronistas que conheci pessoalmente – como Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, José Carlos de Oliveira (o Carlinhos) e Rubem Braga. Ao citá-los, Xexéo jamais imaginou que provocaria em mim doída saudade do meu irmão Otto Lara Resende.
“Hoje no Brasil, nenhum cronista sofre por falta de assunto. A gente sofre por excesso de assunto. É assunto demais para pouca crônica”. A inveja confessada por Xexéo não é só em consequência do reconhecido talento dos cronistas citados: “Invejo-os – frisou ele – por terem exercitado o gênero numa época em que o cronista podia se dar o luxo de não ter assunto. Invejo-os porque eles podiam chegar diante da máquina de escrever com nenhum tema em pauta”.
Bem que poderia, leitor, deixar de lado os inúmeros assuntos, e, afinal, escrever, mas só depois de pedir licença ao capixaba Rubem Braga (conterrâneo do Carlinhos) sobre, por exemplo, o beija-flor que fez ninho na minha varanda, mas me traiu, sumiu e nunca mais apareceu. Podia dizer algo sobre o tempo em que, para adiar o infarto, me dediquei aos cuidados de uma fazenda, mas submetido às leis da natureza. Quando chegava lá, os problemas, bem como os assuntos, sumiam de vista. Minha mente, às vezes atormentada, me impunha o silêncio. Lembrava-me somente do que era ser de fato mineiro, definido e eternizado por Fernando Sabino: “Ser mineiro é ver o nascer do sol e o brilhar da lua, é ouvir o cantar dos pássaros e o mugir do gado, é sentir o despertar do tempo e o amanhecer da vida”. E o tempo se dissipava!
Depois do incêndio de parte do maior e mais precioso acervo da nossa história, tratada, quase sempre, como lixo, o dilúvio! Segundo o Gênesis, dilúvio é a inundação cataclísmica de toda a superfície da terra. Vivemos um verdadeiro dilúvio político! Políticos e eleitores, em boa parte, conseguiram sujar a política – que é o meio ou a única ponte viável capaz de nos levar ao regime democrático, nosso porto seguro. E, agora, para onde vamos? Essa seria, com certeza, a pergunta que faria minha mãe. Sua única resposta? Só Deus sabe!
O país está arruinado! Foi possuído pelo ódio entre duas “facções”. Mesmo assim, nada intimidados, só estamos de olho na carceragem da PF em Curitiba (Lula dirá o nome do poste…) e na UTI do Hospital Albert Einstein (Jair Bolsonaro é a salvação do país…). Que se virem os 206 milhões de brasileiros! Afinal, só Deus é quem sabe!
O trágico é se Deus faltar, cansado de tanta burrice!
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