terça-feira, 18 de setembro de 2018

A internet é nossa garantia de liberdade

O ambiente das redes sociais anda tóxico. Mais especificamente, o ambiente do Facebook e do WhatsApp, onde transcorre o grosso do tiroteio político. Odeio a ideia de safe spaces, lugares seguros, mas, diante do ambiente polarizado dessas eleições, tenho cada vez mais vontade de me fechar em grupos que discutem livros, gatos e aquarismo, onde as pessoas (ainda) se tratam com civilidade e gentileza.


O último fim de semana foi particularmente agressivo, numa amostra do que deve vir por aí. A vítima da vez foi o grupo “Mulheres unidas contra Bolsonaro”, que contava com mais de 2 milhões de inscritas quando foi hackeado: a imagem de abertura foi trocada, o título foi mudado para “Mulheres com Bolsonaro” e algumas das suas administradoras sofreram ameaças.

Na noite de sábado, o próprio Facebook tirou a página do ar enquanto tentava estabelecer um mínimo de ordem. No domingo a página voltou, mas foi hackeada mais uma vez.

Quem não entende o que está em jogo faz pouco caso do incidente.

“Gente, vcs ficam com esse lance de grupo no face, se incomodando com essas bobagens enquanto Gilmar Mendes solta vários políticos??? Isso de grupo a gente decide na urna... Nossa, com certeza isso só faz esquecer um mal bem maior!!!!”, escreveu uma das pessoas que comentaram o assunto na minha página, refletindo um sentimento comum.

Um grupo de Facebook, afinal, é só um grupo de Facebook: um coletivo de ativistas de sofá, exercendo o seu jus sperneandi. Ou não?

Na verdade, não. Um grupo de Facebook é um coletivo virtual — mas é, acima de tudo, um grupo de pessoas de carne e osso reunidas em torno de uma ideia ou de um interesse comum. Se não estiverem infringindo a lei ou as normas de conduta da rede, espaços de reunião devem ser preservados; quem não concorda com o que se conversa ali tem todo o direito de se retirar e de fazer o seu próprio grupo.

“Mulheres unidas contra Bolsonaro” trouxe uma novidade em termos de grupo político: é suprapartidário e reúne eleitoras de diferentes candidatos, em torno apenas do que já sabem que não querem, de uma proposta de Brasil que preferem evitar.

É bastante impressionante que o grupo tenha reunido, até a noite de segunda-feira, mais de 2,5 milhões de mulheres — mas, ainda que fossem 25, ou 250, ele deveria ser respeitado da mesma maneira.

A internet é a ferramenta mais poderosa de que um cidadão dispõe contra o sistema — contra partidos políticos, contra a burocracia, contra a opressão do Estado. Graças à internet foi possível, por exemplo, fazer a lei da ficha limpa.

Ela é um baluarte da cidadania, a nossa garantia de liberdade. Derrubar essa ágora, essa praça pública, é atentar contra os cidadãos e contra a democracia.

Era de se esperar que todos os candidatos tivessem vindo a público denunciar o ataque — mas, que eu tenha visto, apenas Marina se manifestou. Era de se esperar, sobretudo, que a campanha de Bolsonaro tivesse repudiado a ação e se distanciado dela.

O que se viu, porém, foi o contrário: o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o general Mourão atacaram o grupo com notícias falsas.

Assim provaram, os dois, que “Mulheres unidas contra Bolsonaro” tem sólidos motivos para existir.

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