segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Trapaças, golpes e tragédias na política brasileira

A política brasileira está repleta de golpes e manobras rocambolescas que cristalizam práxis nocivas ao país e favoráveis a indivíduos e linhagens. Isso atravanca a renovação no Poder Legislativo e a eleição de candidatos melhores para o Executivo, especialmente a Presidência da República. Uma estratégia eficaz é a formação de um quadro partidário multifacetado, sem consistência ideológica, mas ajustado ao mandonismo local, para que inimigos paroquiais confrontem-se sem fragilizar os respectivos feudos. Cada um cuida, portanto, de seu espaço, ignorando os interesses nacionais.


Os partidos maiores servem-se de minúsculas legendas que são acessíveis a alianças espúrias sob a promessa de absorção no loteamento da máquina pública e de benesses à comunidade carimbadas com os nomes dos benfeitores nacionais e locais. Não importa a instabilidade institucional nem a descontinuidade de programas oficiais, mesmo que isso deixe um cemitério de obras inacabadas. Aliás, muitos políticos preferem o país pobre, ignorante e desigual para exercer mais amplamente seu domínio. Resultados pífios são mantidos, então, quanto ao desenvolvimento socioeconômico, ao mesmo tempo em que se formulam novas estratégias para preservar o poder pelas mesmas oligarquias.

Uma expressão singular de manobra política está na teia urdida pelos republicanos para que o marechal Deodoro da Fonseca assumisse a liderança do novo regime, porque tinha alto prestígio com a tropa. Ignorando sua condição de dileto amigo de dom Pedro II, ele enviou, no dia 16 de novembro de 1889, uma intimação ao imperador para que deixasse o país com sua família em 24 horas, sob o pretexto de preservar a ordem pública. Sua audácia como presidente do Governo Provisório não o livrou, entretanto, da renúncia, em 1891, diante da Primeira Revolta da Armada.

Houve outros problemas que inviabilizaram a transmissão tranquila do cargo para presidentes legitimamente eleitos, como a morte de Rodrigues Alves antes da posse para seu segundo mandato, em 1919, e a de Tancredo Neves, em 1985. Além disso, Júlio Prestes foi impedido de assumir, em 1930, pelos líderes da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder. Ele se manteve com perfil autoritário até 1945, quando foi deposto pelo Alto Comando do Exército. Foi sucedido pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), José Linhares, até a posse de Eurico Dutra, em 1946. Voltando à Presidência por eleição livre, o gaú-cho não suportou as pressões de seus inimigos, suicidando-se no Palácio do Catete, em 1954.

A campanha eleitoral de 1950 tinha evidenciado a baixa consistência partidária, pois o Partido Social Democrático (PSD) abandonou Cristiano Machado, votando em Getúlio Vargas, em processo conhecido como “cristianização”. Isso aconteceu novamente em 1989, quando Aureliano Chaves e Ulysses Guimarães foram ignorados pelos correligionários, que preferiram bandear-se para candidatos mais promissores.

Vivemos depois tragédias e golpes ainda piores.

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