A autossabotagem parece ser uma marca inerente à Nação. Numa avaliação fria dos últimos tempos é fácil perceber que quase todos os agentes – de congressistas a empresários, banqueiros, juízes, trabalhadores em geral e até jornalistas (por que não?) – contribuíram e seguem articulando para puxar o País para baixo. Senão, vejamos: ao menos nos dois anos recentes estivemos prestes a evoluir de uma aguda recessão, que castigou indiscriminadamente quase o período integral dos desastrosos mandatos da petista Dilma Rousseff, para um quadro de, ao menos, equilíbrio de mercado e, com sorte, de crescimento sustentável. Havia efetivamente instrumentos para tanto. Os indicadores monetários de câmbio, juros e carestia se acomodavam. Claro que bancos não iriam permitir repassar à ponta final do tomador o crédito mais barato com taxas civilizadas. Naturalmente que a bancada de tribunais iria recorrer a veleidades como a da soltura de salafrários políticos e empresariais condenados até em segunda instância. Inevitável que parlamentares, em tempos de eleição, se dariam ao desfrute de espetar gastos extras, em forma de projetos, no orçamento público. E que veículos de comunicação se dedicariam com especial afinco aos desdobramentos da Lava Jato e dos escândalos, deixando de lado a cobrança sistemática de uma agenda mais positiva para reconsertar o Brasil. Todos, invariavelmente, nesse interregno de dois anos, resolveram cruzar os braços à espera de mudanças por osmose e aceitaram passivamente a crise como sentença irreversível. Mergulharam em um desânimo contagiante e inercial. Deram de ombros para a necessidade de participar e pressionar as instituições por alternativas mais palatáveis, de retomada, de abertura aos investimentos, de privatização e de aprovação de propostas estruturais que significassem efetivamente ajustes. Por que da escolha desse caminho? Como se chegou até aqui? Para uma conclusão mais abalizada é preciso retomar a trajetória desde o seu início com a deposição da presidente petista em 2016. O governo que assumiu a seguir e fazia a transição do caos para uma possível estabilidade foi literalmente engolfado por ataques. Empresários e executivos, travestidos de denunciantes da Justiça, partiram a acusações e atropelaram planos que estavam em franco andamento. As reformas vinham sendo feitas. A trabalhista passou. O teto de gastos das estatais, idem. A inflação voltou ao eixo. Os juros desceram a um dígito – ainda não no plano ideal, mas quase lá – e a revisão completa do sistema previdenciário estava na boca para acontecer. Parou quando já era dada como certa em meio ao festival de armações e negociatas para dizimar o poder constituído. O povo embarcou criando para o sucessor Temer, sabe-se lá a título do que e com quais fundamentos, o maior índice de impopularidade que já se viu de um mandatário – maior até do que o da Dilma (há explicação?). O Congresso entregou sua parcela de ajuda conspirando para entornar o caldo. Praticou o boicote escancarado a projetos (aliás, sua maior especialidade) e seguiu dando as costas ao Executivo. Vieram seguidas acusações, ao menos três processos de julgamento por casos de favorecimento. A mídia em boa parte cuidou de fazer o bombardeio sistemático da cobertura às investigações, deixando de lado medidas funcionais em negociação. A maior emissora do País passou quase um ano inteiro mostrando a mesma cena de um encontro forjado entre o presidente Temer e o empresário que foi orientado por procuradores do Ministério Público a agir nesse sentido. Vieram depois os caminhoneiros que literalmente pararam o Brasil, com o apoio benevolente da população, diga-se de passagem – mesmo que isso significasse (como veio a se verificar depois) prejuízos de toda ordem em vários setores e principalmente no bolso do contribuinte e no PIB. Os caminhoneiros decidiram travar as estradas e paralisar a produção simplesmente porque a estatal do petróleo, que havia passado pelo maior roubo da história – praticado pela corja dos adoradores de Lula que se estabeleceu no poder-, estava finalmente fazendo o certo. Qual seja: agindo segundo regras do mercado, obedecendo a reajustes de preços conforme o resto do mundo. Na estatal, desde a troca de gestão, entrou a competência. O executivo Pedro Parente foi colocado ali para arrumar a casa e tratou justamente disso em um prazo quase recorde. Também teve sua cota de ataques e foi forçado a sair (seguiu depois, como não poderia deixar de ser, para uma das maiores empresas privadas nacionais com a missão de consertar outro buraco). Logo a seguir a sua saída, e certamente decorrente das mudanças adotadas até então, a Petrobras anunciou o maior lucro de que se tem notícia em um semestre desde 2011. Não é pouco depois de tudo que enfrentou. Não importava. Os impulsos de sabotagem à brasileira superariam qualquer fato positivo.
Na reta final do mandato, que está por assim dizer em período de aviso prévio, cumprindo os derradeiros 90 dias de comando, o presidente se encontra nas cordas, acuado, travado pelo descaso de um Parlamento oportunista e de sistemáticas acusações de desvios ainda não devidamente comprovadas. O Supremo Tribunal trata de fazer das suas. Virou palco de circo nos julgamentos, com os magistrados querendo aparecer mais do que as leis. Um candidato presidiário esculhamba com o que há de mínimo respeito às leis. O povo espera pelo milagre da mudança com as eleições. Mas ela só virá através de uma revisão de comportamento, geral e irrestrita.
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