E, como se não bastasse receber dinheiro público, as legendas têm usado mal esses recursos. Levantamento feito pelo Estado mostrou que os partidos terão de devolver aos cofres públicos mais de R$ 13,3 milhões em razão de irregularidades no uso dos recursos do fundo partidário em 2012. O valor, que ainda deverá ser corrigido por juros, é o resultado do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) das prestações de contas dos diretórios nacionais das 30 agremiações existentes em 2012.
O PSDB terá de devolver R$ 5,4 milhões. Depois, vem o PT, que terá de ressarcir R$ 1,53 milhão ao erário. Em seguida, vêm DEM (R$ 1 milhão), PMN (R$ 922 mil) e PP (R$ 726 mil). Ao todo, o TSE reprovou a conta de nove legendas: PCO, PSDB, PR, PPS, PRTB, PCB, PSDC, PMN e PHS. O PT do B e o DEM tiveram suas contas “desaprovadas com ressalvas”. Esses 11 partidos terão os repasses do fundo suspensos.
Proporcionalmente, a maior sanção foi aplicada ao PRTB, que ficará sem o equivalente a cinco repasses do Fundo Partidário em 2019. No entanto, a penalidade será diluída em dez parcelas de forma a não comprometer as atividades da sigla. Ora, se um partido não usa bem os recursos públicos que lhe são destinados, a sanção correspondente deveria justamente recair sobre as atividades da legenda. Do contrário, é o próprio Estado afirmando que os partidos que não cumprem a lei podem continuar funcionando sem maiores percalços.
As irregularidades mais comuns foram a falta de documentos que comprovem gastos com hospedagem, passagens aéreas, assessoria e marketing, repasses a diretórios estaduais que estavam impedidos de receber cotas do Fundo Partidário e o não cumprimento da exigência de investir 5% do fundo para programas que incentivem a participação feminina na política.
Sendo do contribuinte o dinheiro, o mínimo a esperar dos partidos é uma prestação de contas transparente, detalhada e precisa, com o rigoroso cumprimento dos parâmetros legais. Se os postulantes a cargos públicos e seus partidos têm problemas no uso de recursos do Estado antes mesmo de assumirem os cargos, seu comportamento demonstra que, a rigor, não estão aptos para os postos que almejam.
No caso do PT, foram encontradas irregularidades que somaram R$ 3,39 milhões, o que corresponde a 7,42% dos recursos do Fundo Partidário recebidos em 2012. Mesmo assim, as contas não foram reprovadas. Segundo o relator do caso, ministro Admar Gonzaga, apesar de haver “um mínimo de elementos indicativos de má-fé do partido”, a jurisprudência do TSE permite a aprovação das contas com ressalvas, mediante a aplicação dos princípios da “proporcionalidade e da razoabilidade”. Tendo em vista que já virou praxe esse descuido com o dinheiro público por parte das legendas, deve a Corte revisar sua jurisprudência, endurecendo as regras. Não é possível tamanha tolerância com quem dispensa a lei na hora de gastar o dinheiro do contribuinte.
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