A ideia da criação do fundo era evitar que empresas participassem com dinheiro lícito ou ilícito nas campanhas, depois da descoberta da maior rede de corrupção do país com a geração do caixa dois por meio de contratos fraudulentos das empreiteiras com as empresas públicas. Pois bem, a nova lei, agora, deixa nas mãos dos presidentes dos partidos, muitos envolvidos na Lava Jato, a divisão do dinheiro para cada candidato nos estados. Abre-se, assim, é claro, uma janela para fabricação de notas fiscais frias e outros artifícios para justificar a saída desses recursos bilionários para centenas de candidatos no país.
O mais grave, porém, são os buracos na legislação que dão margem a corrupção e o desvio de recursos do fundo eleitoral. Candidatos medíocres, os porcas urnas, aqueles de pouca importância – ou nenhuma - numa coligação partidária, vão ressurgir nas eleições. Muitos aparecem nessas horas para extorquir empresários. Outros, mais habilidosos, apresentam-se como laranjas. Existem, no entanto, aqueles que estão no mandato e vão apelar para se reeleger. Preteridos na distribuição da cota, vão correr atrás do dinheiro fácil.
Políticos experientes, com quem conversei, alertam que esse dinheiro invisível poderá vir do tráfico de drogas. Dizem que, a exemplo do surgimento das bancadas dos evangélicos e dos ruralistas no Congresso Nacional, os traficantes também se preparam para ocupar espaço na política e formar seus ninhos no congresso financiando candidatos. Em doses homeopáticas isso já vem ocorrendo. No Rio, a deputada federal Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, e o deputado estadual Marcus Vinicius (PTB), respondem a processo por associação ao tráfico, depois da descoberta de que traficantes do bairro de Cavalcanti ajudaram a elegê-los.
Ora, não é difícil supor que candidatos sem acesso ao fundo eleitoral recorram ao dinheiro fácil da droga para bancar suas campanhas, já que o caixa dois – se existir – estará muito vigiado e alguns desses políticos vão preferir o dinheiro “não contabilizado” para financiar suas campanhas. O Brasil, na América do Sul, não seria o único país com uma bancada financiada pelo narcotráfico. É bom lembrar que na Colômbia até o chefão Pablo Escobar representou a sua turma na Câmara dos Deputados eleito legitimamente pelo voto popular.
Portanto, não seria de se estranhar que o narcotráfico e as facções criminosas, que agem dentro dos presídios, comandassem ações aqui fora para criar uma base política de defesa de seus interesses no Congresso Nacional.
No comércio das drogas, o Brasil não está tão longe dos cartéis colombianos.
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