sábado, 17 de março de 2018

Relato do desaparecimento de um povo

A escalada de violência no conflito entre indígenas e madeireiros na Amazônia levou Thomas Fischermann a Humaitá, no sul do Amazonas, em 2014. A morte de três colonos na região era o ponto de partida do jornalista alemão para uma reportagem.

Sua primeira tentativa de contato com membros da etnia Tenharim, da qual cinco integrantes estavam sendo apontados como autores dos assassinatos, foi impedida por militares enviados para reforçar a segurança na área conhecida como 180, localizada no quilômetro 180 da Transamazônica.

Dias após essa tentativa frustrada, Fischermann fez o primeiro contato com os Tenharins. Na época, o jornalista alemão, que não tinha grande ambição por contatos extremos com a natureza e nem era fã de acampar, não imaginava que a reportagem seria o estopim para o livro Der letzte Herr des Waldes (O último dono da mata, em tradução livre), lançado na quinta-feira na Feira do Livro de Leipzig.

Tenharins vivem em reserva no sul do Amazonas
"O mundo ainda não sabe o quão rápido a Amazônia está desaparecendo e, se a floresta continuar sendo desmatada, muitos segredos da natureza e da farmacologia serão perdidos", afirma Fischermann ao falar sobre a motivação para escrever a obra.

"Além disso, em várias regiões da Amazônia, populações indígenas inteiras estão sendo mortas por madeireiros, garimpeiros, fazendeiros e organizações ligadas ao tráfico. O destino desses povos é pouco conhecido ou noticiado", acrescenta.

Em "Der letzte Herr des Waldes", o jornalista dá voz ao jovem guerreiro Madarejúwa Tenharim, de 21 anos, que divide com o leitor um pouco da história, cotidiano, cultura e desafios enfrentados por seu povo.

"Inicialmente pretendia escrever um livro-reportagem clássico sobre a Amazônia e o que estava acontecendo com os povos indígenas, mas com o tempo senti que precisava de um protagonista. Os Tenharins têm muito a dizer e falam bem melhor sobre a realidade de sua floresta do que eu como visitante", acrescenta Fischermann.

Nos quatro anos que seguiram a primeira viagem a Humaitá, Fischermann retornou diversas vezes à região para entender os conflitos que ocorriam ali. E também para conhecer a fundo o cotidiano da etnia Tenharim e os desafios que enfrentam diante do encolhimento de sua reserva, desmatada ilegalmente por madeireiros, garimpeiros e fazendeiros.

Atualmente, cerca de mil indígenas fazem parte da etnia, que já chegou a ser formada por mais de 10 mil pessoas. O grupo vive em uma reserva localizada no sul do estado do Amazonas, atravessada pela rodovia Transamazônica, inaugurada na década de 1970. A estrada trouxe consigo as ameaças que colocam em risco a floresta e suas populações.

Durante o tempo em que esteve pesquisando para o livro, Fischermann acompanhou de perto o processo de transformação em curso na região. Segundo o jornalista, a cada ano que passa a reserva dos Tenharins diminui devido ao desmatamento ilegal. O autor avalia que se a destruição continuar no atual ritmo, a tendência é que a floresta na reserva desapareça em dez ou 15 anos.

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